Havana - A guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) reconheceu nesta terça-feira (17/11) a captura de um general e de mais duas pessoas em uma zona rural da Colômbia, enquanto a delegação do país em Havana se disse disposta a resolver o caso e retomar o diálogo de paz.
Os rebeldes afirmaram que o general Rubén Alzate, o cabo Jorge Contreras Rodríguez e a advogada Gloria Urrego haviam sido interceptados no domingo por unidades rebeldes móveis, "no exercício de suas tarefas de segurança", no departamento ocidental de Chocó.
Alzate, comandante da Força-Tarefa Conjunta Titán que opera nessa região pobre do oeste do país, é o militar de patente mais alta a ter sido capturado pelas Farc nos 50 anos de conflito armado.
"Depois de totalmente identificados - apesar de estarem vestindo roupas civis - os três foram capturados por nossas unidades por se tratar de militares inimigos se deslocando no exercício de suas funções, em uma área de operações de guerra", informou a guerrilha em um comunicado transmitido em sua página na web e lido em Cuba pela delegação de paz.
"Respeitamos a vida e a integridade física e moral de nossos prisioneiros e estamos plenamente dispostos a lhes garantir isso até onde nos seja permitido pela ira estatal", afirma o Bloco Iván Ríos, das Farc, no comunicado.
"Estamos subordinados a decisões adotadas pelas instâncias superiores" da guerrilha, acrescenta. ;Mecanismos para que a situação seja resolvida;
Uma hora antes da apresentação do comunicado, a delegação de paz das Farc havia afirmado que não tinha "informações concretas" sobre Alzate e seus companheiros.
O comandante Pastos Alape, membro da delegação, expressou sua "surpresa" pela decisão de Santos de suspender os diálogos e manifestou a disposição da guerrilha em reiniciar o processo de paz, que na quarta-feira (19/11) completa dois anos.
Alape sugeriu buscar um "mecanismo" para resolver o caso do general e seus acompanhantes. "São necessários mecanismos para que lá, na Colômbia, a situação seja resolvida. O que a mesa (de diálogos em Havana) poderia fazer é facilitá-los", disse o comandante.
Santos exigiu às Farc na segunda-feira (18/11) a libertação imediata do general e de seus companheiros como prova de sua vontade de estabelecer a paz, nesta que é a pior crise em que já viveu o processo, iniciado em 19 de novembro de 2012.
"O compromisso das Farc está sendo testado. O avanço até o fim do conflito e a reconciliação dependem de sua decisão", afirmou o presidente colombiano em cadeia nacional. "Enquanto essa situação não é solucionada", os negociadores de paz do governo "não poderão viajar à Havana para retomar as conversações", acrescentou.
Diálogo em meio ao conflito
O sequestro pôs em risco o processo de paz nas vésperas em que serão completados dois anos de negociações, durante as quais as Farc e o governo chegaran a um acordo em três dos seis pontos de uma agenda destinada a acabar o conflito armado de meio século, que já deixou 220 mil mortos e 5,3 milhões de deslocados.
"Queremos que este impasse seja resolvido o quanto antes para que o processo (de paz) possa continuar avançando sem sustos até um acordo final", disse Alape, destacando que o governo "negou teimosamente a possibilidade de que o processo de paz se desenvolva em meio a uma trégua".
O governo de Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, a maior guerrilha do país, dão continuidade a estes diálogos de paz em Cuba sem que tenha sido declarado um cessar-fogo. O presidente se nega a aceitar uma trégua porque acredita que os rebeldes a usariam para se fortalecer militarmente.
No início de 2012, o grupo rebelde se comprometeu a não sequestrar mais civis, mas quis manter o direito de capturar policiais e militares, considerados prisioneiros de guerra."É preciso ser claro: embora estejamos negociando em meio ao conflito, as Farc têm que entender que não se pode alcançar a paz reforçando ações violentas e minando a confiança", disse Santos em mensagem ao país.
A União Europeia pediu, na segunda-feira (17/11), uma liberação "imediata e sem exigências" dos reféns e o escritório da ONU na Colômbia manifestou repúdio pelo sequestro.
As negociações de Havana estão suspensas desde o dia 2 de novembro e deveriam ter sido retomadas nesta terça-feira (18/11).