A Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria, liderada pelo diplomata brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro e formada pelas Nações Unidas, divulgou nesta sexta-feira dados estarrecedores sobre a brutalidade do grupo extremista sunita Estado Islâmico. O relatório Rule of terror: Living under ISIS in Syria ("Ditadura do terror: A vida sob o Estado Islâmico na Síria") se baseou em 300 entrevistas com homens, mulheres e crianças que fugiram ou que vivem em áreas dominadas pelos jihadistas. O documento aborda o impacto sobre a vida dos civis, os ataques à população, as violações contra as mulheres e contra as crianças, além de abusos cometidos durante ofensivas contra o Estado Islâmico.
"O Estado Islâmico cometeu assassinado e outros atos desumanos, escravização, estupro, escravidão sexual, deslocamento forçado e tortura", afirma o relatório. "O terror infligido sobre a população civil é claramente evidenciado pelos relatos de testemunhas e de vítimas. Os abusos e crimes cometidos levaram à submissão pretendida da população civil", acrescenta. De acordo com o documento, os abusos cometidos pelos jihadistas foram deliberados e calculados". "Os testemunhos coletados revelam que o Estado Islâmico busca subjugar civis sob seu controle e dominar cada aspecto de suas vidas, por meio do terror, da doutrinação e do fornecimento de serviços para aqueles que obedecem ao grupo", destaca o relatório.
Os especialistas da ONU fizeram uma série de recomendações à comunidade internacional, incluindo a adoção de mecanismos de julgamento, como o Tribunal Penal Internacional, para punir comandantes do Estado Islâmico por crimes de guerra e contra a humanidade. Eles também esperam que as Nações Unidas implementem a resolução n; 2.170 para assegurar que os membros do Estado Islâmico sejam responsabilizados e punidos por abusos dos direitos humanos e violações do direito humanitário internacional.
Paulo Sérgio Pinheiro enviou um e-mail ao Correio, por meio do qual fala com exclusividade sobre as conclusões do relatório. Leia:
"A enorme gravidade do Estado Islâmico decorre do fato de que as populações que estão nos territórios controlados pelo grupo terrorista estão dominadas por uma política de submissão e do medo. Três grupos são extremamente vulneráveis: primeiro, os de outras religiões ou etnias, como os yazigi, os cristãos, os xiitas e os curdos, esses últimos considerados infiéis - todos eles podem ser mortos, crucificados ou decapitados, se não se converterem. Em segundo lugar, as mulheres, que têm os direitos fundamentais anulados, como sua vida pessoal, social e pública. Elas são submetidas a uma guarda moral, capaz de mandá-las serem açoitadas, mortas por apedrejamento, submetidas a casamento forçado e à escravidão. Em terceiro lugar, as crianças, sequestradas, colocadas em campos de treinamento militar, doutrinadas para a violência, obrigadas a colaborar com castigos e execuções. Esse grupo está cometendo crimes de guerra e contra a humanidade."