Miami - A eleição para governador da Flórida nesta terça-feira será de fortes emoções, com ambos os candidatos em empate técnico, após uma dura campanha marcada por ataques e acusações mútuas, neste estado-chave onde o voto latino é decisivo.
De um lado, está o atual governador republicano, Rick Scott, que busca a reeleição e tem a recuperação econômica do estado como um de seus principais trunfos eleitorais. Do outro, está Charlie Crist, um ex-governador que se coloca como defensor da classe média.
Todas as pesquisas mostram os dois cabeça a cabeça, com pouco mais de 40% das intenções de voto cada. "É muito apertado e muito difícil prever o resultado", disse à AFP a professora de Ciência Política Susan MacManus, da University of South Florida. A expectativa tornou a disputa na Flórida uma das mais acompanhadas nos Estados Unidos.
Nesta terça, o país renova 36 governadores, todas as 435 vagas da Câmara de Representantes e um terço do Senado (36). A briga na Flórida ganha especial relevo por ser um "swing state", ou seja, não é claramente democrata, nem republicano.
Ter um governador do mesmo partido pode ser de imenso valor na disputa pela Casa Branca, em 2016, que será decidida por estados como a Flórida.
Atrás do voto hispânico
A grande pergunta é sobre o nível de participação dos jovens, hispânicos, negros e mulheres, que costuma ser menor nas eleições de meio de mandato.
A professora Susan MacMannus lembra que esses grupos tendem a favorecer os democratas.
"As pessoas estão bastante desiludidas com ambos os partidos, e o que nós temos feito é ir conversando sobre os temas que afetam as pessoas, para que entendam que o voto é uma ferramenta que nós temos", disse à AFP Serena Pérez, da organização Florida New Majority, que promove o voto latino.
Os candidatos cortejaram ativamente os hispânicos, com anúncios em espanhol, comícios nas áreas de maioria latina e com a escolha de seus companheiros de chapa. O atual vice-governador, Carlos López Cantera, é de origem cubana. Já Crist tem como vice a colombiana Annette Tadeo Goldstein.
Um dos três debates entre Scott e Crist foi transmitido por uma influente emissora hispânica dublado em espanhol, para chegar diretamente aos latinos. Esse grupo representa 18,3% dos 11,9 milhões de eleitores do estado, onde 24% da população provém da América Latina.
Avalanche negativa
O milionário empresário Scott, de 61 anos, diz ser responsável pela criação de mais de 650 mil postos de trabalho. Já o advogado Crist, de 58, que passou grande parte de sua vida em cargos públicos, define-se como "o governador do povo", que se dedicará ao bem-estar da classe média.
Nessa dura campanha, as propostas dos candidatos foram ofuscadas por uma verdadeira avalanche de anúncios negativos.
Mais de US$ 81 milhões foram gastos na Flórida em anúncios de televisão - 57%, negativos; 25%, mistos; e apenas 18%, com mensagens positivas -, de acordo com a organização Center for Public Integrity, que estuda as campanhas.
Neles, Scott é mostrado como um inescrupuloso ultraconservador que favorece as grandes empresas, enquanto Crist é acusado de ter afundado a Flórida na crise econômica e de inconstância política. Ele governou o estado como republicano (2007-2011), depois se lançou ao Senado americano como independente e agora se apresenta como democrata.
Com a quase certeza de um resultado apertado, os analistas advertem que pode demorar até que se conheça o vencedor da disputa, podendo até haver recontagem dos votos. Na Flórida, esse procedimento é automático, se a diferença for muito pequena entre um e outro.
Esse cenário traz à tona a traumática eleição de 2000. Após um mês de incerteza, a Justiça concedeu a vitória no estado, com apenas 537 votos de diferença, ao republicano George W. Bush, selando a derrota do democrata Al Gore na corrida presidencial.