Erbil - Cerca de 150 combatentes curdos começaram a deixar nesta terça-feira (28/10) o Curdistão iraquiano a caminho da cidade síria de Kobane para ajudar na resistência aos jihadistas. Aguardados há semanas, esses primeiros reforços curdos devem chegar a Kobane nos próximos dias, se sua viagem e a passagem pela fronteira entre Turquia e Síria for feita sem problemas.
Enquanto isso, combates são travados na terceira maior cidade curda da Síria, onde um dos objetivos dos jihadistas da organização Estado Islâmico (EI) é tomar o controle de bairros do norte e bloquear o caminho para a Turquia. Nesta terça, pelo menos nove extremistas foram mortos em uma emboscada de combatentes curdos entre duas aldeias da periferia leste da cidade, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Aviões da coalizão realizaram três ataques contra alvos no centro de Kobane, segundo a ONG. Os combatentes curdos conseguiram repelir várias investidas recentes em um conflito que já dura mais de 40 dias, apoiados pelos ataques aéreos da coalizão liderada pelos Estados Unidos.
Em Erbil, capital da região do Curdistão iraquiano, um correspondente da AFP viu dezenas de caminhões militares deixando uma base do nordeste da cidade. "Quarenta veículos transportando armas, peças de artilharia e metralhadoras, com 80 peshmergas (combatentes curdos iraquianos) a bordo, estão a caminho de (a província de) Dohuk e atravessaram hoje a fronteira" com a Turquia, informou um oficial curdo.
Um segundo contingente de 72 combatentes partirá no início da quarta-feira de avião para a Turquia, de onde irá para a fronteira entre Turquia e Síria por Mursitpinar, localidade turca mais próxima de Kobane. Os peshmergas serão "uma força de apoio", equipada principalmente com armas automáticas e lança-foguetes, disse Halgord Hekmat, porta-voz do ministério encarregado dessa força de segurança curda que já combate o EI no Iraque. Eles permanecerão em Kobane "até que sua presença não seja mais necessária", afirmou.
Refém em vídeo de Kobane
Depois da pressão insistente dos Estados Unidos, o governo turco autorizou na semana passada a passagem de 150 combatentes peshmergas. Mas Ancara não quer ir além e se recusa a ajudar militarmente as forças curdas de Kobane. Os turcos temem que uma operação como essa beneficie apenas o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad - seu maior inimigo -, e o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), que enfrenta as forças de segurança da Turquia desde 1984.
O governo turco deseja que a oposição síria moderada assuma o controle da cidade e que, para isso, Washington "equipe e treine" o Exército Sírio Livre (ESL), declarou o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu em entrevista à BBC. No Iraque, a mobilização de combatentes fora do país causou um acalorado debate. Alguns deputados criticaram a permissão. Um deles a considerou "ilegal e inconstitucional". Mas, para Hakim al-Zamili, um dos líderes de uma das principais milícias xiitas, "interessa ao povo iraquiano" porque o Iraque e a Síria enfrentam a mesma ameaça.
Em sua guerra de propaganda, o EI divulgou um vídeo mostrando em Kobane o fotojornalista John Cantlie, que é mantido como refém desde novembro de 2012. O britânico, que já havia aparecido em outros vídeos do EI, desmente as informações segundo as quais os jihadistas teriam sido forçados a desistir de sua ofensiva contra a cidade. No Iraque, as aeronaves dos Estados Unidos e de seus aliados realizaram nove ataques, incluindo quatro nas imediações da represa de Mossul, uma zona que o EI tenta retomar.
Drama humanitário
Em Berlim, uma conferência internacional reuniu mais de 40 países e organizações internacionais para discutir a situação, cada vez mais dramática, dos cerca de três milhões de sírios obrigados a deixar suas casas depois de mais de três anos de guerra civil. O alto comissário das Nações Unidas para os refugiados, Antonio Guterres, pediu o aumento da ajuda concedida aos países vizinhos da Síria, incluindo o Líbano, a Jordânia e a Turquia, sobrecarregados com a presença de centenas de milhares de refugiados.
"Esta é a crise humanitária mais dramática que o mundo enfrenta em muitos anos", considerou Guterres. O primeiro-ministro libanês, Tammam Salam, alertou que seu país "está no limite de sua capacidade de absorção" de refugiados. Cerca 50 organizações não-governamentais fizeram um apelo na segunda-feira pelo aumento da ajuda humanitária aos refugiados e exigiram que os países ocidentais recebam pelo menos 180.000 sírios que fogem da guerra.