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Coalizão liderada pelos EUA quer combater extremistas na internet

O sub-secretário de Estado para os assuntos públicos disse que 'o número de pessoas que se juntam ao Daesh (acrônimo do grupo EI) está em queda'

Mursitpinar - A coalizão liderada pelos Estados Unidos voltou a bombardear posições do grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque, enquanto Washington pediu nesta segunda-feira (27/10) que a batalha contra os jihadistas se estenda à internet. Reiterando que a solução para o problema não pode ser apenas militar, o general americano reformado John Allen, coordenador da coalizão, insistiu na importância de lutar contra "as atividades on-line" do EI, muito ativo nas redes sociais.

"Só quando competirmos com a presença do EI na rede, quando negarmos a legitimidade da mensagem que mandam aos jovens, só então venceremos realmente o EI", afirmou Allen durante um encontro realizado na Cidade do Kuwait. O general afirmou que o EI está promovendo seu "tipo de guerra horrível na internet, onde recruta e perverte inocentes".

Para combatê-la, uma outra autoridade americana, Rick Stengel, sub-secretário de Estado para os assuntos públicos, falou sobre a criação de "uma coalizão de informação que atue paralelamente à coalizão militar". Os participantes da reunião - principalmente representantes do Golfo, Iraque, Egito, Grã-Bretanha e França - se comprometeram a reforçar a luta contra as mensagens extremistas do EI, de acordo com a declaração final do encontro.

Stengel disse que "o número de pessoas que se juntam ao Daesh (acrônimo do grupo EI) está em queda". "Acreditamos que ele esteja perdendo o seu apelo", considerou. O EI recrutou milhares de voluntários para a jihad de muitos países árabes, mas também europeus e asiáticos, que se juntaram as suas fileiras na Síria ou no Iraque, onde o movimento criou um "califado" nas vastas áreas sob seu controle.

Entre seus combatentes, "quase 2.000" seriam provenientes de países da União Europeia, segundo indicou recentemente o ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve. Muitos deles foram atraídos pelas campanhas sofisticadas lançadas por recrutadores nas redes sociais, onde são divulgados, entre outras coisas, vídeos glorificando os feitos do EI.

Peshmergas prontos para Kobane

No plano militar, a coalizão realizou novos ataques contra posições do EI em torno de Kobane, a cidade síria curda que resiste há mais de 40 dias ao assédio jihadista. Auxiliados por esses ataques, os curdos conseguiram repelir as últimas investidas dos combatentes extremistas, que cometeram dois atentados suicidas domingo no leste da cidade, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A incerteza continua acerca da chegada a Kobane de cerca de 200 peshmergas, os combatentes curdos iraquianos. "Estamos prontos para enviá-los", mas "esperamos para saber qual é a postura adotada pelo Estado turco", declarou Mustafa Qader, chefe do ministério responsável pelos peshmergas em Erbil, principal cidade da região autônoma do Curdistão iraquiano.

A Turquia surpreendeu recentemente ao permitir, sob pressão dos Estados Unidos, a passagem dos peshmergas por seu território. Ainda na Síria, os jihadistas do EI decapitaram no leste do país quatro membros da tribo sunita dos Shaitat, vítima de um massacre cometido pelo grupo extremista, relatou o OSDH. "O EI decapitou no domingo quatro homens da tribo Shaitat na cidade de Bukamal, na província de Deir Ezzor, acusando-os de colaboração com o regime diante de uma multidão que assistia à execução" de Bashar al-Assad, afirmou à AFP Rami Abdel Rahmane, diretor da ONG.

Bukamal, na fronteira com o Iraque, é uma das principais cidades sob controle do EI, que domina grande parte do leste sírio, onde impõe sua interpretação extremista do Islã sunita. Também nesta segunda-feira, a Frente Al-Nosra, braço da Al-Qaeda na Síria, e outros grupos rebeldes iniciaram uma vasta ofensiva na cidade de Idleb, um dos últimos redutos do regime sírio no noroeste do país.

Em um ano, os rebeldes e a Frente Al-Nosra perderam muitos redutos para o Exército, que tem o apoio do movimento xiita libanês Hezbollah, sobretudo nas províncias de Homs e Damasco.

Chegada do inverno preocupa

No Iraque, pelo menos 14 pessoas morreram em um atentado suicida com carro-bomba em uma área estratégica ao sul de Bagdá, onde estavam posicionadas forças do governo e milícias xiitas, informou uma fonte médica. Fontes das forças de segurança confirmaram a explosão de um veículo carregado de explosivos que também deixou 25 pessoas feridas em Khourf al-Sakhr, uma localidade que o governo havia retomado do EI no último fim de semana.



Os aviões da coalizão realizaram mais três ataques nas proximidades da barragem de Mossul, segundo o Exército americano. No âmbito humanitário, a situação tem se agravado no Iraque com a aproximação do inverno. Segundo o diretor de Assuntos Humanitários da ONU, Rashid Khalikov, "5,2 milhões de iraquianos precisam de ajuda, enquanto 1,8 milhão deixaram suas casas desde janeiro". "Um inverno rigoroso se anuncia e começa a fazer muito frio à noite (...) 800.000 pessoas precisam de abrigo com urgência", ressaltou Khalikov, que pediu à comunidade internacional um amento nas doações.