Washington - O governo americano quer asfixiar financeiramente o grupo Estado Islâmico (EI), considerado pelos Estados Unidos "a organização terrorista mais bem financiada do mundo", para impedir que consiga administrar os territórios sob seu poder na Síria e no Iraque.
"À exceção de algumas organizações terroristas apoiadas por Estados, o grupo Estado Islâmico é, provavelmente, a organização terrorista mais bem financiada que já enfrentamos", afirmou o subsecretário do Tesouro americano encarregado da Luta contra o Terrorismo, David Cohen, durante uma conferência em Washington, nesta quinta-feira (23/10).
Depois de denunciar a venda de petróleo, os resgates obtidos com sequestros e as extorsões como métodos de financiamento do EI, Cohen informou que os Estados Unidos vão intensificar sua colaboração com seus sócios regionais para "asfixiar o contrabando de petróleo" nas fronteiras e identificar as redes de contrabandistas.
Ao ser questionado pelo vice-presidente do think tank americano Carnegie Endowment for International Peace, Marwan Muasher, se esse combate é de interesse prioritário para os Estados Unidos, Cohen respondeu: "É, com toda certeza, um combate americano". "O que o EI faz é ameaçar o coração dos nossos interesses, sejam os membros do nosso pessoal (diplomático), sejam nossas instalações no Iraque, seja o interesses dos nossos aliados mais próximos na região - Jordânia, Líbano e Turquia", alegou o subsecretário do Tesouro.
O EI "tenta criar ali (em faixas de território do Iraque e da Síria) um abrigo para terroristas", alertou Cohen, acrescentando que cerca de 15 mil estrangeiros, incluindo "dezenas de americanos", chegaram a essas regiões. "É, portanto, de grande interesse para nós combater o EI", justificou.
O petróleo extraído dos campos de exploração na Síria e no Iraque, refinado nas unidades que o grupo conseguiu ocupar até agora, é vendido mais barato no mercado negro. Com isso, o EI tem conseguido arrecadar cerca de US$ 1 milhão por dia desde meados de junho, relatou Cohen. Segundo ele, esse petróleo é vendido a curdos no Iraque, que revendem o cru para a Turquia. Cohen garantiu, porém, que as autoridades turcas e curdas no Iraque "se comprometeram a combater o contrabando de petróleo".
O subsecretário americano disse ainda que há indícios de que esse petróleo também está sendo vendido para o regime sírio de Bashar al-Assad. Essas compras seriam - frisou - "um sinal a mais da depravação" do governo de Damasco.
EUA vão punir quem comprar petróleo do EI
Os recentes golpes militares "começaram a reduzir a capacidade do EI de gerar receita com esse contrabando", afirmou Cohen, destacando que "qualquer um que comprar petróleo roubado pelo EI será alvo de sanções financeiras". "Não apenas podemos isolá-los do sistema financeiro americano e congelar seus ativos, como também podemos lhes causar sérias dificuldades para conseguir um banco onde depositar seu dinheiro", ameaçou o funcionário.
Ele se gabou de que o Tesouro americano seja "um dos poucos departamentos de Finanças do mundo a dispor de sua própria agência de Inteligência". O subsecretário comentou ainda que as ambições territoriais do EI seriam "uma carga financeira" para a organização. "Tentar controlar cidades e territórios no Iraque e na Síria e fornecer um mínimo de serviços públicos à população que a organização quer dominar custa caro", explicou.
Como exemplo, David Cohen citou o orçamento oficial iraquiano para as províncias atualmente ocupadas pelo EI, que passa de US$ 2 bilhões. "Isso supera amplamente a receita do EI (...) Isso significa, simplesmente, que a organização não pode dar conta das necessidades mais básicas da população que tenta controlar", completou, referindo-se às condições precárias de água e de energia elétrica em Mossul, no Iraque.
Em relação aos sequestros, Cohen repetiu que o EI conseguiu "pelo menos US$ 20 milhões com resgates este ano". Por isso, pediu a todos os países que se neguem a pagar resgates e lamentou que, na última primavera, o EI tenha recebido "pagamentos de milhões de dólares" em troca da libertação de jornalistas e de cidadãos de diferentes países europeus mantidos como reféns.