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Meninas capturadas pelo Boko Haram completam seis meses em cativeiro

Movimento "Bring back our girls" planejaram caminhar até a residência do presidente Goodluck Jonathan, na esperança de obter uma audiência

Abuja - Seis meses depois, nada mudou: mais de 200 estudantes sequestradas pelo Boko Haram no noroeste da Nigéria continuam prisioneiras do grupo islamita armado, distante da comoção internacional suscitada no momento do sequestro. Uma manifestação foi organizada nesta terça-feira (14/10) em Abuja para exigir a libertação das jovens e marcar este triste aniversário. Várias centenas de membros do movimento "Bring back our girls" ("Tragam de volta nossas filhas"), nascido em abril em apoio às reféns, planejaram caminhar até a residência do presidente Goodluck Jonathan, na capital nigeriana, na esperança de obter uma audiência.

Vários outros eventos foram realizados na semana passada, incluindo uma vigília à luz de velas em homenagem a essas meninas cujo rapto em sua escola em Chibok, no estado de Borno, em 14 de abril, provocou indignação internacional e uma efusão de bons sentimentos.

[SAIBAMAIS]No total, 276 adolescentes com idades entre 12 e 17 anos foram sequestradas em seus dormitórios por homens armados e levadas em caminhões para floresta de Sambisa, uma das sedes do Boko Haram, perto da fronteira da Camarões. Dezenas delas conseguiram escapar de seus captores nas horas e dias que se seguiram, mas 219 meninas ainda estão desaparecidas.



O líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, reivindicou a responsabilidade pelo sequestro em um vídeo obtido pela AFP em 5 de maio, ameaçando casar as meninas a força e tratá-las como escravas. Na semana seguinte, outro vídeo mostrava cerca de 130 meninas com o véu islâmico, recitando versos do Corão. Shekau exigiu desta vez a libertação de prisioneiros do Boko Haram em troca das meninas do ensino médio de Chibok. Pouco depois, o exército nigeriano, através de seu chefe do Estado-Maior Alex Badeh, afirmou ter localizado as jovens, assegurando que uma operação de resgate estava sendo planejada. Desde então, nenhuma outra notícia. Nem das jovens, nem de hipotéticas negociações.

Montanha-russa emocional

A campanha "Bring back our girls" ganhou rapidamente as redes sociais. Na Nigéria, os membros do movimento, desaprovado pelas autoridades, continuaram a reunir-se regularmente em Abuja, mas os meios de comunicação internacionais deixaram de dar atenção ao grupo ao longo das semanas.

Vários países estrangeiros - os Estados Unidos na liderança, com a França e a Grã-Bretanha - forneceram apoio militar e logístico, mas lamentam a má colaboração com o exército nigeriano e a falta de progresso nas buscas. O Boko Haram realizou dezenas de novos sequestros na região Chibok, em meio à indiferença geral desta vez.

Para os pais de jovens mulheres raptadas, esses seis últimos meses foram de uma espécie de montanha-russa emocional, com fases de esperança e longos períodos de agonia, segundo Mark Enoque, chefe do conselho de anciãos de Chibok, cuja filha e sobrinha estão entre as prisioneiras. "Inicialmente, estávamos muito otimistas, acreditando que as nossas meninas seriam encontradas e resgatadas em dias (...), mas essa esperança tem diminuído dia a dia", declarou à AFP.

"Em um determinado momento, chegamos a considerar ritos fúnebres para as meninas, de acordo com as nossas tradições", disse. "Mas a descoberta no mês passado em Mubi, de uma jovem que havia sido sequestrada em janeiro pelo Boko Haram, deu-nos a esperança de que nossas filhas também serão encontrada". "Se essa menina foi libertada depois de nove meses. Nós não perderemos a esperança de que nossas filhas sejam libertadas um dia. Isso nos deu esperança e paciência, e estamos dispostos a esperar anos para que as nossas filhas retornem", concluiu Mark.

Para os pais de Chibok, foram "seis meses de dor, angústia, ansiedade e estresse", segundo uma mãe de luto, que pediu anonimato. "Pedimos ao governo que redobrasse os esforços para encontrar e resgatar as meninas", afirmou à AFP, indicando que as autoridades nigerianas, muito criticada por sua falta de ação nas semanas após o sequestro, têm "uma margem de progresso". "Eu não perdi a esperança de um dia apertar a minha filha em meus braços."