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Governo ucraniano minimiza chances de acordo sobre o gás com Moscou

Enquanto isso, no leste do país, a trégua parece estar sendo respeitada, após um acordo com os rebeldes pró-russos

Kiev - "Nada está assinado". A Ucrânia colocou em dúvida neste sábado (27/9) as chances de uma resolução de sua disputa sobre o gás com a Rússia, enquanto que no leste do país, a trégua parece estar sendo respeitada, uma semana após a conclusão de um acordo com os rebeldes pró-russos.

No dia seguinte ao anúncio de um acordo provisório pela União Europeia ao final de negociações em Berlim entre russos, ucranianos e europeus para restabelecer o fornecimento de gás à Ucrânia, o presidente da Naftogaz, o grupo de distribuição de gás ucraniano, declarou que o impasse com Moscou não foi resolvido.

[SAIBAMAIS]"Não foi tomada qualquer decisão definitiva, nenhum documento foi assinado", afirmou Andrii Kobolev em sua conta no Facebook.

Apresentando na sexta-feira um "acordo provisório", que ainda deve ser aprovado pelos dois governos, o comissário europeu da Energia, Günther Oettinger, explicou que, em troca do pagamento de 3,1 bilhões de dólares antes do final do ano, a gigante russa Gazprom iria se comprometer a fornecer pelo menos 5 bilhões de m3 de gás para a Ucrânia durante o inverno.

Mas Kiev rapidamente se distanciou deste anúncio. "Há uma proposta da Comissão Europeia. Mas, por enquanto, não encontramos qualquer solução aceitável para todos", garantiu à AFP o ministro da Energia da Ucrânia, Iurii Prodane.

Kiev e Moscou estão empenhados em uma nova disputa em torno das diferentes etapas do acordo: o lado ucraniano está pronto para pagar sua dívida, caso a Gazprom concorde em suprir suas necessidades durante o inverno, segundo Prodane.

Moscou estima que Kiev deve 5,3 bilhões de dólares de dívidas e interrompeu o fornecimento de gás em junho. O conflito foi submetido a um tribunal de arbitragem em Estocolmo, mas o veredicto só será anunciado no próximo ano. O primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, assegurou que qualquer que seja o resultado das negociações, Kiev não irá retirar a sua queixa.

Europa ameaçada

Antes do início das negociações em Berlim, o ministro russo Alexander Novak ameaçou a Europa com possíveis cortes de gás, se os países europeus continuarem a vender gás para a Ucrânia "de modo a inverter o fluxo". Os países da UE importam quase um terço de seu gás da Rússia, e metade desse fluxo através da Ucrânia.

Apesar do impasse quanto a questão do gás, o cessar-fogo no leste da Ucrânia tem sido respeitado globalmente, uma semana após o acordo alcançado em Minsk entre Kiev, a Rússia e os separatistas pró-russos para implementar uma trégua sob os auspícios da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).



Um soldado ucraniano foi morto e outros oito ficaram feridos nas últimas 24 horas, segundo o porta-voz militar Volodymyr Poliov;, e disparos de armas pesadas ainda são ouvidos esporadicamente em Donetsk, a principal cidade controlada pelos rebeldes.

Mas os combates estão longe da intensidade que ainda prevalecia na semana passada antes do último acorde de Minsk. Pela primeira vez, militares russos e ucranianos se reuniram na sexta-feira perto da linha de frente para discutir a implementação do acordo de cessar-fogo, incluindo a criação de uma zona tampão de 30 km sem armas pesadas, informou a OSCE.

O exército ucraniano indicou que os soldados russos viajaram para Donetsk ainda na sexta-feira para convencer os separatistas a respeitar o cessar-fogo. Desde abril, o conflito no leste ucraniano deixou pelo menos 3.200 mortos.