Setenta e cinco anos depois de sua morte no exílio em Londres, em 23 de setembro de 1939, Sigmund Freud, pai da psicanálise, se tornou um "ícone pop" em Viena, uma cidade que combateu ferozmente suas teorias e o forçou a fugir frente à ameaça nazista.
No total, 130 mil judeus austríacos foram forçados ao exílio e 65.000 foram mortos, um massacre que afetou principalmente a elite intelectual vienense, e da qual a cidade nunca se recuperou totalmente.
"O percurso de Freud resume um período incrível da história de Viena, que se tornou a capital mundial das artes e das ciências, com um número recorde de ganhadores do Prêmio Nobel, afundando na barbárie e no provincianismo intelectual", observa Kettner.
Simbólico, o famoso divã freudiano não está em Viena, mas em sua última residência em Hampstead, Londres.
"No museu Freud, falta o divã e isso é bom: você não pode agir como se nada tivesse acontecido", ressalta Monika Pessler, diretora da instituição vienense.
"Esta casa simboliza a perda, a perda humana, científica e cultural sofrida pela Áustria com o nazismo e o Holocausto", lembra ela.
Nada de profeta em seu país
O museu lembrará a morte de Freud cobrindo o edifício com um pano preto e difundindo na escada do número 19 a única gravação de voz conhecida, uma entrevista à BBC após sua chegada a Inglaterra, onde foi saudado como um herói.
A Associação Psicanalítica de Viena (PVS), fundada por Freud em 1908, lançará, por sua vez, na internet todos os escritos do praticante, incluindo 11 mil cartas.
A Galeria de Arte Contemporânea 21er Haus vai inaugurar uma grande exposição "Sigmund Freud e o fardo da representação", reunindo as obras de centenas de artistas liderados pelo americano Joseph Kossuth.
Hoje, mais do que antes, não há dúvida da lua de mel entre os vienenses e Freud.
"Ninguém é profeta em seu próprio país, e isto é particularmente verdadeiro para Freud em Viena. Ele continua sendo mais popular no exterior do que na Áustria", observa Pessler.
"Com a guerra, a psicanálise se desenvolveu em outros lugares, em Londres, Nova York, Buenos Aires. Hoje, em Viena, ela ainda luta por reconhecimento, incluindo na universidade", diz ela.
Christine Diercks, presidente do PVS, diz: "Em Viena, a psicanálise não tem o mesmo status no discurso público do que em Paris", constata sobriamente.