Kiev - O exército ucraniano anunciou neste domingo (21/9) que não aplicará o plano de paz negociado com os separatistas pró-Rússia antes do respeito de um cessar-fogo total no leste da Ucrânia, onde dois soldados morreram desde a assinatura do plano.
Kiev e os separatistas assinaram na madrugada de sábado em Minsk um memorando de nove pontos, ratificado também pela Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) e a Rússia, que prevê a criação de uma zona desmilitarizada de 30 quilômetros de comprimento no total dos dois lados da linha de frente.
Mas o porta-voz do exército ucraniano, Andri Lysenko, afirmou que a aplicação da zona desmilitarizada, de onde deveriam ter sido retiradas as armas pesadas na madrugada de domingo, seria possível apenas após um cessar-fogo total nas regiões separatistas de Lugansk e Donetsk.
"Um dos principais pontos (do acordo assinado sábado em Minsk, capital de Belarus) envolve o cessar-fogo e somente depois estão os outros pontos", afirmou Lyssenko.
[SAIBAMAIS]"Enquanto não for cumprido o primeiro ponto, não podemos falar dos seguintes", disse durante uma entrevista coletiva.
O texto prevê a entrada em vigor simultânea dos pontos acordados no território controlado pelos rebeldes, ou seja, uma zona de 230 km de comprimento entre Lugansk e o mar de Azov ao sul, e de 160 km de comprimento entre Donetsk ao oeste e a fronteira russa ao leste.
O texto prevê a aplicação de vários dispositivos como a criação da zona desmilitarizada na linha de frente (estabelecida em 19 de setembro), assim como a proibição do uso das armas de calibre superior a 100 milímetros nas zonas habitadas, entre outros.
O memorando pretende reforçar um protocolo de cessar-fogo assinado em 5 de setembro, também em Minsk.
Desde a assinatura deste protocolo, 37 civis e militares morreram no leste da Ucrânia. O conflito provocou 2.900 mortes e deixou 600.000 deslocados em cinco meses.
De acordo com o governo da Ucrânia, dois soldados morreram em combates no leste do país desde a assinatura do memorando no sábado.
Em Donetsk, principal cidade sob controle dos separatistas pró-Rússia, tiros com armas pesadas foram ouvidos neste domingo nas imediações do aeroporto, controlado pelas forças ucranianas.
De acordo com o memorando de Minsk, todas as tropas estrangeiras devem abandonar a Ucrânia. Os países ocidentais e Kiev acusam a Rússia de apoio militar aos separatistas, o que Moscou nega, apesar da imprensa local ter informado sobre o enterro no norte da Rússia de paraquedistas mortos na Ucrânia.
Protesto na Rússia
Milhares de pessoas protestaram neste domingo em Moscou contra o envolvimento do governo russo no conflito da Ucrânia, na primeira grande manifestação contra a guerra desde o início dos confrontos em abril.
Os manifestantes, incluindo ativistas da oposição, muitos com bandeiras ucranianas e russas, percorreram as ruas da capital com gritos de "Não à guerra da Ucrânia" e "Pare com as mentiras de Putin".
Segundo a polícia, a manifestação reuniu 5.000 pessoas no centro de Moscou. Um dos organizadores, Serguei Davidis, citou "dezenas de milhares de pessoas".
"Estou convencido de que a guerra foi provocada por (o presidente russo Vladimir) Putin", disse Vladimir Kashitsin, um manifestante de 44 anos, que compareceu ao protesto em uma cadeira de rodas.
"Quero que Putin deixe de interferir nos assuntos internos da Ucrânia", completou.