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Governo francês tem voto de confiança para manter reformas econômicas

Duzentos e sessenta e nove deputados votaram a favor, 244 votaram contra e 53 se abstiveram



"Estarei à altura desta confiança", disse Valls após o anúncio do resultado.

No discurso anterior à votação, o primeiro-ministro excluiu a possibilidade de mudança no rumo das reformas econômicas destinadas a sanear as finanças do país, apesar das críticas que as mesmas provocam, inclusive dentro do Partido Socialista.

"Nada deve nos fazer desviar de nosso compromisso de obter 50 bilhões de euros em cortes durante três anos", disse, acrescentando que "é necessário controlar a evolução dos gastos públicos".

Referindo-se implicitamente à Alemanha e à Comissão Europeia, Valls disse que a "França decide sozinha o que deve fazer em matéria econômica e orçamentária". Ressaltou ainda que a próspera Alemanha, país que visitará na próxima semana, deve "assumir suas responsabilidades" em relação ao fraco crescimento da zona do euro.

"O acordo entre nossos dois países é indispensável para reativar o crescimento e devolver ao projeto europeu sua verdadeira ambição", disse. "Alemanha e França têm uma responsabilidade comum que é histórica", afirmou.

Com este voto de confiança, tradicional após uma reorganização do governo embora não seja obrigatório, o executivo deu uma resposta àqueles, da oposição e da opinião púbica, que consideram que a legitimidade foi perdida.

Lastreado pela impopularidade recorde de Hollande, o governo socialista viveu um verão calamitoso: reorganização em agosto com a partida de três ministros críticos com a austeridade, dados econômicos fracos, postergação da meta de redução do déficit público, e a renúncia do secretário de Estado de Comércio Thomas Thévenoud, após a descoberta de que ele sonegou impostos durante vários anos.

Para coroar tudo isso, o livro vingativo da ex-companheira de Hollande, Valérie Trierweiler, de quem o mandatário se separou em janeiro, teve efeitos devastadores.

"Desastre", "naufrágio", "descida aos infernos", os editorialistas franceses não pouparam hipérboles sobre a situação do executivo. E na opinião pública, 62% dos franceses desejam a renúncia do chefe de Estado, segundo uma pesquisa do instituto Ifop.

Valls disse à oposição que "pedir a renúncia de um chefe de Estado é questionar nossas instituições e, portanto, debilitar a França".

Rebelião entre socialistas

Paradoxalmente, o principal para Valls nesta terça-feira era convencer os refratários de sua próprio partido, os deputados socialistas "rebeldes" que o acusam de aplicar uma política de direita favorável aos patrões, quando o país atravessa uma crise social grave, com um desemprego recorde.

Em uma mensagem destinada evidentemente a eles, o primeiro-ministro reivindicou em seu discurso "os valores caros à esquerda" e criticou a principal associação patronal francesa, que nos últimos dias questionou o salário mínimo e o tempo legal de trabalho, propostas que Valls classificou de "provocação".

Anunciou ainda uma série de medidas econômicas para os lugares mais modestos. "Sim, nós reformamos e continuaremos. Mas reformar não é romper, reformar não é retroceder", disse.

A moção de confiança obtida pelo governo permitirá que o presidente Hollande enfrentar com maior serenidade a coletiva de imprensa que dará na quinta-feira.