Aberdeen - O primeiro-ministro britânico fez nesta segunda-feira (15/9) seu último apelo apaixonado em terras escocesas para defender a unidade do Reino Unido, faltando três dias para o referendo sobre a independência da Escócia.
"Por favor, fiquem, eu imploro a vocês, não rompam com esta família", pediu David Cameron em um discurso de 15 minutos em que alternou elogios, ameaças explícitas e promessas, no palácio de convenções de Aberdeen, porto petrolífero no nordeste da Escócia.
Diante de 800 pessoas totalmente favoráveis à manutenção desta região no Reino Unido, ele elogiou tudo o que foi alcançado em 307 anos, a idade do Tratado de União, nos campos da ciência, literatura, esportes, etc.
Em seguida lançou uma advertência: "Não haverá volta", se os escoceses votarem pela independência, não haverá moeda comum, nem aposentadoria comum, nem passaportes comuns. Finalmente, ele prometeu delegar mais poderes ao Parlamento regional escocês se o ;Não; prevalecer. Reconhecendo a força do voto anticonservador nesta região voltada para a esquerda, ele chegou a afirmar que não seria premiê indefinidamente. "Se vocês não gostam de mim, não vou estar aqui para sempre", disse.
No entanto, "se a Escócia votar sim (à independência), o Reino Unido vai se partir, e nossos caminhos vão se separar, para sempre", acrescentou. Para Wanterbberin Gilliam, de 39 anos, presente no salão, "Cameron fez a coisa certa ao vir para cá, e não ficar em Londres".
O primeiro-ministro conservador foi, de fato, criticado por sua insuficiente participação na campanha do referendo. Durante sua visita a Aberdeen, cercada de segredo - os serviços do partido conservador se recusaram a dar a localização exata do primeiro-ministro até segunda-feira (15/9) à tarde - ele preferiu não ir ao encontro da multidão.
Pouco antes de sua chegada, no centro da cidade, poucos partidários do ;Sim; continuavam a distribuir panfletos, sem adversários à sua frente. "Não é porque eles estão mais confiantes, mas apenas porque são mais arrogante", afirmou Ron Fowlie, de 73 anos, em referência aos partidários do ;Não;, ausentes no terreno. "Eles não podem nem imaginar que o ;Sim; pode prevalecer."
Em Londres, no entanto, alguns milhares de partidários da manutenção da Escócia no Reino Unido, reuniram-se no final da tarde em torno da Trafalgar Square. Alguns de kilt, outros com bandeiras escocesas, gritavam "Scotland, não parta, nós te amamos".
Shona Milne, de 56 anos, originária de Glasgow mas que passou parte de sua vida na Inglaterra, exibia com orgulho uma camiseta: "Orgulho de seu escocesa e britânica". Eles estavam respondendo a um chamado "Vamos ficar juntos" com o objetivo de "mostrar que a Escócia é importante para nós", segundo seus organizadores.
David Beckham defende o não
Os partidários do ;Não; podem contar com o apoio do jogador de futebol David Beckham, que defendeu o Reino Unido, uma união de regiões "invejada pelo mundo inteiro".
"O que nos une é muito maior do que aquilo que nos divide. Fiquemos juntos", escreveu o ex-capitão da seleção em uma carta aberta divulgada pela campanha "Better Together".
Antes dele, a rainha Elizabeth II, oficialmente neutra no debate, deixou transparecer sua preocupação no final de um serviço religioso perto de seu castelo escocês de Balmoral. Com a aproximação do referendo, os dois lados estão tecnicamente empatados, embora o ;Não; tenha prevalecido em três das últimas quatro pesquisas de opinião.
[SAIBAMAIS]"Esta meio a meio", ressaltou Ron Fowlie, lamentando o fato de que "metade da população (da Escócia) ficará desapontada" com o resultado. O primeiro-ministro escocês e líder dos separatistas, Alex Salmond, tem, por sua vez, esforçado-se para convencer os líderes empresariais em Edimburgo dos benefícios da independência frente ao alarmismo exibido nos círculos financeiros.
Ele acusou o governo britânico de orquestrar uma campanha negativa, e reiterou que seu objetivo era criar uma Escócia "próspera" e "mais justa". Salmond recebeu o apoio do Nobel de Economia Joseph Stiglitz, que considerou haver "pouca base para alarmismo".
Para Rob Wood, economista do banco alemão Berenberg, mesmo que o ;Não; vença, muitas questões continuarão sem resposta. Por exemplo, uma vitória apertada não significaria o fim da incerteza sobre a possibilidade de um segundo referendo nos próximos anos", defendeu nesta segunda-feira (15/9). Alex Salmond pareceu descartar a possibilidade.