Paris - Novecentas e trinta pessoas procedentes da França participam da jihad (guerra santa) no Iraque e na Síria, declarou o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, ao semanário Le Journal du Dimanche deste domingo. No total, "930 cidadãos franceses ou estrangeiros radicados na França estão atualmente envolvidos na jihad na Síria e no Iraque", afirmou.
Segundo o ministro, "350 estão na zona, incluindo 60 mulheres. Aproximadamente 180 deixaram a Síria e 170 estão em trânsito em direção à região", acrescentou. Além disso, 230 pessoas avaliam se dirigir a áreas tomadas pelos jihadistas, e outras 36 pessoas morreram nestas regiões, segundo o ministro.
Os governos ocidentais demonstraram preocupação sobre a possibilidade de que seus cidadãos que se unem ao Estado Islâmico retornem posteriormente para casa e cometam atrocidades.
[SAIBAMAIS]O homem que realizou a aparente decapitação do agente humanitário britânico David Haines fala com um sotaque britânico.
Cazeneuve declarou que alguns jihadistas que retornam para casa se vangloriam do que fizeram e afirmam que estão prontos para deixar o país novamente.
"Outros, destruídos pela violência e pelas atrocidades que viram ou participaram, afirmam que não querem mais se envolver nestes atos", explicou. "Alguns dizem ter saído em uma missão humanitária, mas temos informações confiáveis de que lutaram em fileiras jihadistas", disse o ministro.
Ele anunciou que, desde a primavera (do hemisfério norte), ao menos 70 pessoas foram impedidas de deixar o país depois que as autoridades receberam 350 alertas sobre possível jihadistas.
Nos últimos meses foi criado na França um número telefônico "antijihad" para as famílias que temem a partida de um de seus membros.
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Na segunda-feira será apresentado ao Parlamento francês um projeto de lei destinado a frear as partidas de candidatos à jihad. É esperado um consenso direita-esquerda em um país que se sente muito exposto e no qual existe um vazio jurídico. Mas a França não é o único país que enfrenta o problema da falta de legislação a respeito.
Atualmente, o Reino Unido estuda medidas para enfrentar o problema. Na sexta-feira, a Alemanha se dotou de um arsenal legislativo para lutar contra o Estado Islâmico, proibindo em seu território qualquer atividade de apoio ou propaganda a favor desta organização.
Quando perguntado sobre o francês Mehdi Nemmouche, suspeito de matar quatro pessoas no Museu Judeu de Bruxelas no dia 24 de maio, Cazeneuve declarou: "a perversidade do sistema terrorista jihadista faz com que não seja obrigatoriamente necessário receber uma missão para que se cometa um ato terrorista".
"Quando as pessoas estão destruídas por atos diários de extrema violência, decapitações ou outros atos de barbárie, todos os seus valores morais caem, todos os seus pontos de referência somem", disse.
Nemmouche, que também possui nacionalidade argelina, foi acusado na Bélgica de "assassinato em um contexto terrorista" e foi extraditado da França ao país no fim de julho.
No entanto, ex-reféns franceses na Síria o reconheceram como um de seus carcereiros. O Museu Judeu de Bruxelas, alvo do ataque de Nemmouche, abriu suas portas neste domingo, cerca de quatro meses após o atentado.