Agência France-Presse
postado em 12/09/2014 09:20
Londres - O reverendo unionista Ian Paisley, que passou de líder incendiário a amigo de seus inimigos e primeiro-ministro da Irlanda do Norte após os Acordos de Paz, morreu nesta sexta-feira aos 88 anos.
"Meu querido marido, Ian, entrou no descanso eterno nesta manhã", comunicou sua esposa, Eileen. "Nós o amávamos e ele nos adorava, e nossas vidas terrenas mudaram para sempre", acrescentou
Paisley era um reverendo que passou à política, se uniu ao Partido Democrático Unionista (DUP) e teve um papel-chave nas negociações de paz que, em 1998, colocaram fim a décadas de violência entre protestantes pró-britânicos e católicos partidários de que a Irlanda do Norte voltasse a ser parte da Irlanda.
Em 2007 se converteu no primeiro chefe de governo da Irlanda do Norte, depois que Londres concedeu a autonomia, e, em 2008, sentindo que havia cumprido o seu dever, renunciou aos seus cargos políticos e entregou o comando a Peter Robinson.
Foi deputado britânico e eurodeputado. Desde seu afastamento sofreu frequentes problemas de saúde e utilizava um marcapasso.
Homem de uma voz e uma altura colossais, Ian Paisley nasceu em 6 de abril de 1926 em Armagh, no centro da Irlanda do Norte, filho de um reverendo batista.
Outrora chamado de "Doctor No" por sua intransigência, Paisley, defensor da união da Irlanda do Norte à Grã-Bretanha e ferrenho opositor à divisão do poder com os republicanos católicos, deu uma guinada de 180 graus em 2007 quando aceitou se sentar e trabalhar com seus inimigos do passado
Ficavam para trás seus ataques virulentos aos católicos. Como em 1969 quando, por exemplo, disse que "católicos se reproduzem como coelhos e se multiplicam como uma praga". Ou como quando justificou os ataques as suas casas afirmando que ardiam "porque costumam estar cheias de bombas".
Em maio de 2007 foi eleito primeiro-ministro do Ulster junto ao vice-primeiro-ministro Martin McGuinness, número dois do Sinn Fein e ex-líder do Exército Republicano Irlandês (IRA).
Ao lembrar os primeiros encontros com McGuiness após a formação do governo norte-irlandês, o reverendo Paisley declarou: "A primeira vez em que vi (McGuinness) disse a ele que poderíamos brigar cada vez que nos víssemos (...), mas que tínhamos um trabalho a fazer".
"E foi o que fizemos. Católicos e protestantes nunca estiveram tão próximos e todos dizem: ;nunca mais a dias tristes, nem a assassinatos;", acrescentou.
Paisley declarou ao se retirar que nunca havia apertado a mão de McGuinness. "Nunca apertamos as mãos. Disse a ele que não acredito em um aperto de mão. E ele concordou que faríamos o melhor possível para tomar decisões que permitissem a todos viver e inclusive amar", acrescentou, ao comentar os acordos que levaram a pacificar a região.
McGuinness, por sua vez, expressou nesta sexta-feira sua tristeza e disse que com o tempo ele e Paisley desenvolveram uma boa amizade.
"Fomos rivais políticos durante décadas, com opiniões diferentes sobre muitas, muitas coisas, mas em algo estávamos de acordo e era no princípio de que estávamos mais bem governados por nossa gente que por qualquer governo britânico", escreveu McGuiness em um comunicado.
"No breve período em que trabalhamos juntos no gabinete do primeiro-ministro e do vice-primeiro-ministro" - cargos que assumiram respectivamente - "desenvolvemos uma relação estreita que se transformou em amizade".
"Quero prestar homenagem a ele", resumiu o ex-líder do IRA. Outro de seus rivais políticos, o líder católico-republicano John Hume, do Partido Social-Democrata e Trabalhista norte-irlandês (SDLP), elogiou Paisley e disse que era menos feroz do que aparentava.
"Conheci bem Paisley", disse Hume à imprensa, acrescentando que ele era um personagem. "Embora nem sempre fosse construtivo, e politicamente muito desafiador, em nível pessoal podia ser encantador", declarou.
"Suas explosões de grande repercussão ofuscavam frequentemente o trabalho desvalorizado que realizou pelo povo de North Antrim", ao qual representou no Parlamento britânico.