Pequim - A China acusou nesta quarta-feira (10/9) o Dalai Lama de "pretender perverter a história" e destacou que ele não tem o direito de decidir acabar com a tradição de vários séculos de reencarnação dos líderes espirituais tibetanos.
"O título de Dalai Lama é conferido pelo governo central segundo uma história secular", disse Hua Chunying, porta-voz da diplomacia chinesa, antes de destacar que não corresponde ao atual e 14; Dalai Lama escolher se terá um sucessor ou não.
"A China mantém uma política de liberdade de crença e de culto, na qual estão o respeito e a proteção da transmissão do budismo", completou Hua, que acusou o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de "intenções ocultas" que fragilizam a religião.
O Dalai Lama, de 79 anos, afirmou em uma entrevista ao jornal alemão Welt am Sonntag que esperava ser o último líder espiritual tibetano e acabar com uma tradição religiosa de vários séculos.
"A instituição do Dalai Lama existe há quase cinco séculos. Atualmente o 14; Dalai Lama é muito popular. A tradição pode terminar com um Dalai Lama popular", declarou.
"Se houver um 15; e envergonhar a função, a instituição do Dalai Lama seria ridicularizada", acrescentou, segundo a tradução em inglês da entrevista.
Segundo a tradição tibetana, os monges devem identificar um jovem que reúna uma série de características reveladoras de que é a reencarnação do último líder espiritual.
O Dalai Lama já havia citado em outras oportunidades a possibilidade de romper com a tradição, com a escolha de um sucessor antes de sua morte ou a organização de eleições.
Ele provocou a revolta dos chineses em maio de 1995, quando anunciou a designação do jovem tibetano Gedun Chokyi Nyima como reencarnação do 10; panchen lama - a segunda autoridade religiosa do budismo tibetano -, que havia falecido em 1989 depois de ser um aliado crítico da China.
Pequim respondeu com o desaparecimento do candidato do Dalai Lama e a designação em seu lugar de Gyeltsen Norbu. Muito tibetanos consideram o panchen lama nomeado por Pequim um impostor.