Londres - As centenas de vítimas de abuso sexual na cidade inglesa de Rotherham (nordeste) vão à Justiça para pedir indenização diante da passividade das autoridades locais, anunciaram nesta quarta-feira seus advogados.
O relatório independente que revela a magnitude dos abusos nesta cidade de cerca de 250.000 habitantes causou consternação no Reino Unido.
[SAIBAMAIS]A ministra do Interior, Theresa May, declarou que Shaun Wright, comissário-geral da Polícia de South Yorkshire - onde Rotherham fica localizada -, deveria renunciar. Wright também é ex-chefe dos serviços de cuidado à infância dessa cidade.
"Meu trabalho como ministra do Interior não é demitir ou contratar comissários-gerais de polícia (...) Mas, até o seu Partido Trabalhista pediu para que renunciasse e, dadas as circunstâncias, deveria atender a esses apelos", declarou May.
O relatório afirma que pelo menos 1.400 crianças foram abusadas sexualmente no período de 16 anos na cidade e aponta para a ineficiência das autoridades. Segundo o informe, elas ignoraram queixas e provas devido a alguns fatores, tais como funcionários com medo de serem acusados de racismo, já que alguns dos autores dos crimes eram asiáticos.
O advogado David Greenwood, da Switalskis Solicitadores, afirmou que ele e sua equipe representam 15 meninas vítimas de abusos sexuais entre 1996 e 2012 nas mãos de gangues e que levaram à justiça as autoridades locais por negligência.
"Em todos os 15 casos que estou estudando verifiquei falhas individuais de funcionários dos serviços sociais, mas o mais importante é que temos sido capazes de estabelecer que a Prefeitura de Rotherham e a Polícia de South Yorkshire não responderam a informações que poderiam ter levado à prisão dos criminosos".
As duas instituições "perderam oportunidades claras de evitar a exploração sexual de dezenas de meninas".
Alexis Jay, autora do relatório incriminador, que foi encomendado pelas próprias autoridades locais, disse que "ninguém sabe a verdadeira escala da exploração sexual em Rotherham".
"Nossa estimativa conservadora é de que cerca de 1.400 pessoas sofreram abusos em todo o período de investigação, de 1997 a 2013", indica Jay, especialista em serviços sociais.
"As autoridades envolvidas têm de responder a muitas coisas", acrescentou, ressaltando que os primeiros relatos do que estava acontecendo foram ignorados.
Jay explicou que a maioria dos autores de abusos foram descritos como "asiáticos" pelas vítimas.
Mas, segundo ela, as autoridades pensavam que se tratava de um problema pontual que iria desaparecer e "vários descreveram seu nervosismo em identificar a origem étnica dos agressores por medo de serem considerados racistas".
Jay explicou que algumas das "vítimas foram encharcadas com gasolina e ameaçadas de serem queimadas, com armas de fogo, forçadas a presenciar estupros e ameaçadas de serem as próximas, caso denunciassem os crimes" às autoridades.
A investigação começou em 2010, após a condenação de cinco homens de origem sul-asiática por crimes sexuais.