Trípoli - Os Estados Unidos acusaram os Emirados Árabes Unidos (EAU) e o Egito de realizarem recentemente incursões aéreas contra milícias islamitas na Líbia, país à beira do caos com a perspectiva da formação de um governo islamita oposto ao atual, exilado no extremo leste.
A porta-voz do Departamento de Estado, Jennifer Psaki, confirmou nesta terça-feira (26/8) os ataques e completou que altos funcionários americanos haviam revelado na véspera que as duas nações teriam realizado ataques aéreos secretos na Líbia na semana passada.
As primeiras declarações americanas a este respeito foram feitas na segunda-feira (25/8) no momento em que o governo reconhecido internacionalmente - o Parlamento eleito e o Executivo provisório - era desafiado pelos islamitas que desejam formar um governo alternativo, após terem tomado o aeroporto de Trípoli de seus adversários nacionalistas.
No sábado (23/8), milícias islamitas já haviam acusado os Emirados Árabes e o Egito de terem efetuado ataques aéreos com o objetivo de reduzir a pressão militar que exercem sobre as milícias nacionalistas que controlavam o aeroporto até então.
De acordo com um porta-voz da aliança líbia de grupos armados, na sexta-feira (22/8) um avião não identificado bombardeou posições de milicianos islâmicos perto do aeroporto de Trípoli, matando dez homens.
As autoridades do Emirados Árabes mantêm o silêncio sobre o caso.
Um funcionário do governo procurado pela AFP evitou fazer qualquer comentário sobre os bombardeios.
O Egito, acusado de ter servido de base para os bombardeios aéreos, negou qualquer envolvimento no episódio.
Egito e EAU, países aliados na luta contra os islamitas, organizaram este ano manobras militares conjuntas nos Emirados.
Apesar dos bombardeios, as milícias islamitas líbias anunciaram a tomada do aeroporto internacional de Trípoli.
Neste contexto, Estados Unidos e União Europeia denunciaram a escalada da luta e das violência na Líbia e pediram uma transição democrática e pacífica nesse país.
Em um comunicado comum, Washington, Paris, Londres, Berlim e Roma condenaram a "ingerência externa na Líbia que exacerba suas divisões internas".
Situação caótica
A Assembleia da Líbia nomeou na segunda-feira (25/8) um pró-islamita para formar um "governo de salvação nacional", em um gesto de desafio ao gabinete provisório instalado no leste da Líbia e que parece incapaz de retomar o controle do país frente às milícias.
A situação no país, à beira da anarquia desde a queda de Muammar Kadhafi em 2011, pode ficar ainda mais complexa, já que a Líbia pode ter dois governos concorrentes.
[SAIBAMAIS]A reunião de Trípoli foi convocada pelos islamitas, que dominam a Assembleia e contestam a legitimidade do novo Parlamento, onde são minoria.
Eleito em junho, o Parlamento está sediado em Tobruk, 1.600 km a leste da capital da Líbia, assim como o governo interino, em razão da violência que assola grande parte do país.
"O Conselho Geral Nacional (CGN, reunido em Trípoli) afastou Abdallah al-Theni do cargo de chefe de governo e encarregou Omar al-Hassi de formar, dentro de uma semana, um governo de salvação" nacional, anunciou o porta-voz dessa assembleia, Omar Ahmidan.
Os islamitas acusam o governo e o Parlamento de serem cúmplices dos ataques aéreos contra os seus integrantes, realizados, segundo eles, pelos Emirados Árabes Unidos e pelo Egito durante os combates pelo controle do aeroporto de Trípoli, fechado desde 13 de julho.