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Cessar-fogo expira na segunda e Gaza se prepara para novas negociações

Este sábado é o sexto dia seguido de trégua

Gaza - Israelenses e palestinos se preparam para novas negociações difíceis que irão determinar o futuro do cessar-fogo, que expira na segunda-feira, e que é observado na Faixa de Gaza após um mês de guerra.

Na véspera das negociações que deverão ser retomadas no domingo no Cairo, o território palestino, devastado pelos ataques israelenses, vive neste sábado seu sexto dia consecutivo de trégua.

Cabe agora aos negociadores israelenses e palestinos chegar a um acordo sobre um cessar-fogo duradouro. Entre os palestinos prevalece o sentimento de confiança, apesar da cautela, quanto às chances de um acordo que impeça o retorno da violência que matou cerca de 2.000 palestinos, a maioria civis, e 70 israelenses, a maioria soldados.

[SAIBAMAIS]Azzam al-Ahmad, chefe da delegação palestina e líder do Fatah, informou neste sábado progressos que fazem sonhar com uma trégua persistente, e não apenas uma nova extensão de alguns dias do cessar-fogo.

"Temos grandes esperanças de um acordo muito em breve, antes do fim da trégua, e talvez muito em breve para um cessar-fogo permanente", declarou à AFP.

"Poderemos chegar a um acordo se o lado israelense atender todas as exigências da delegação palestina unificada, especialmente o fim de qualquer agressão contra o nosso povo, da guerra contra Gaza e o levantamento completo" do bloqueio que sufoca o enclave, afirmou à AFP um porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri.

Já os israelenses se mostram mais discretos.

Com demandas aparentemente irreconciliáveis , o desafio enfrentado pelos negociadores é inventar a fórmula para que cada lado não considere o outro vencedor deste conflito.

Consultas intermediadas

No Cairo, os israelenses se recusam a negociar com os "terroristas" do Hamas, o grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza e com quem travam a batalha. O Hamas é parte da delegação palestina, que também inclui membros da Jihad Islâmica e do Fatah, do presidente da Autoridade Palestina Mahmud Abbas.

Os egípcios atuam como intermediários.

As discussões realizadas até o momento na sede da inteligência egípcia levou ao primeiro cessar-fogo estabelecido segunda-feira e estendido na quinta-feira por mais cinco dias. Os delegados retornaram para suas casas, para novas consultas.

As discussões, que serão retomadas no domingo, deverão girar em torno de uma proposta egípcia que, de acordo com um documento consultado pela AFP, pretende estabelecer um cessar-fogo permanente e convidar a novas negociações dentro de um mês.

Na pauta, questões espinhosas como a abertura de um porto e de um aeroporto exigida pelos palestinos, mas rejeita pelos israelenses, ou ainda a restituição a Israel dos corpos de dois soldados mortos em troca da libertação de prisioneiros palestinos.

Desarmamento, levantamento do bloqueio
O levantamento do bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza desde 2007 e que asfixia a economia local é uma das principais exigências palestinas.

O documento egípcio é vago sobre o assunto, dizendo apenas que os pontos de passagem fechados seriam reabertos.

Diferentes informações evocam projetos de reabilitação e desenvolvimento de Gaza sob supervisão internacional, bem como a reabertura da passagem de Rafah com o Egito, o único acesso à região para o mundo exterior que não está sob controle israelense.

Esta reabertura é outra exigência importante dos palestinos. Para promover um acordo e tranquilizar Israel, preocupado com as armas ou materiais que possam passar por este acesso, a União Europeia manifestou a sua disposição de retomar e expandir a missão EUBAM, iniciada em 2005 em Rafah, onde 70 oficiais europeus participavam do controle de pessoas e bens. A missão foi suspensa em 2007, após a tomada de Gaza pelo Hamas.

Policiais europeus também poderiam treinar policiais e agentes alfandegários da Autoridade Palestina.

"Voltar ao status quo de antes do conflito não é possível", considerou a UE, para quem qualquer cessar-fogo duradouro deve ser acompanhado por um levantamento do bloqueio.

Não se sabe, contudo, de que forma seria possível cumprir as exigências israelenses de desmilitarização de Gaza.