Gaza - O Egito anunciou na noite desta quarta-feira uma prolongação de cinco dias na trégua entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, mas a aviação israelense efetuou quatro ataques ao território logo depois da sua entrada em vigor. O Exército israelense indicou que esses ataques ocorreram em reação aos disparos de seis foguetes a partir do enclave palestino.
Duas horas antes do fim da trégua de três dias iniciada na segunda, às 21h01 GMT (19h01 de Brasília), um foguete da Faixa de Gaza atingiu o sul de Israel, sem deixar vítimas. Esses episódios suscitam temores de uma retomada da violência, após um mês de um conflito entre o Estado hebreu e o Hamas que deixou cerca de 2.000 mortos do lado palestino e 67 do lado israelense.
A previsão é de que a nova trégua seja mantida até o final de terça-feira, à 00h01 local (segunda-feira, 19h01 de Brasília), em uma nova tentativa de chegar a um acordo em torno de uma trégua duradoura que esbarra principalmente na questão, crucial para os palestinos, da suspensão do bloqueio imposto desde 2007 pelo governo israelense que asfixia a economia de um território onde 1,8 milhão de pessoas vivem na pobreza entre Israel, o Egito e o Mediterrâneo.
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[SAIBAMAIS]Durante a manhã, seis pessoas morreram na explosão acidental de um míssil israelense que estava sendo desativado. Entre elas estava Simone Camilli, de 35 anos, cinegrafista da agência Associated Press. Camilli é o primeiro jornalista estrangeiro a morrer no conflito.
Seu tradutor palestino, Ali Abu Afash, de 36 anos, também morreu. Além do seu trabalho de intérprete para a imprensa estrangeira, Ali Abu Afash, pai de dois filhos, colaborava também com o escritório da AFP em Gaza como assistente administrativo.
De acordo com a Repórteres Sem Fronteiras, pelo menos 15 profissionais da informação morreram neste conflito. Cinco pessoas ficaram gravemente feridas na explosão acidental, incluindo o fotógrafo palestino Hatem Mussa, que também trabalhava para a agência de notícias americana.
Dar ainda mais tempo às negociações
O novo acordo tem como objetivo "dar mais tempo às negociações", disse Azzam al-Ahmed, chefe da delegação palestina no Cairo. "Houve um acordo sobre vários pontos relativos a uma suspensão do bloqueio" que asfixia a Faixa de Gaza, afirmou. Os palestinos, que enviaram ao Cairo representantes da Jihad Islâmica, do Hamas e da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), fazem da retirada do bloqueio imposto há sete anos a Gaza uma condição indispensável para o cessar-fogo.
Consultado pelo canal de televisão de seu movimento, Ismail Haniyeh, líder do Hamas em Gaza, reiterou nesta quarta que "haverá cessar-fogo apenas com a suspensão do bloqueio". Israel quer a desmilitarização de Gaza, algo que os palestinos recusam. As duas partes parecem se dirigir a um compromisso para dar à Autoridade Palestina, reconciliada com o Hamas, a responsabilidade sobre futuras negociações.
O Hamas e a OLP chegaram recentemente a um acordo de reconciliação e formaram um governo de união nacional. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aceita negociar com a Autoridade Palestina, mas não com o Hamas, que não reconhece a existência do Estado hebreu.
Abrandamento mais que suspensão do bloqueio
De acordo com um documento ao qual a AFP teve acesso, os egípcios propõem ir além: após a obtenção de um cessar-fogo permanente, eles querem novas discussões em um mês. Então, serão discutidos os principais pontos de bloqueio: a abertura de um porto e de um aeroporto para abrandar o bloqueio e a devolução dos corpos de dois soldados israelenses mortos pelo Hamas em troca da libertação de prisioneiros palestinos.
O Cairo propõe também que a zona-tampão ao longo da fronteira da Faixa de Gaza com Israel seja gradualmente reduzida e colocada sob vigilância das forças de segurança da Autoridade Palestina. Quanto à retirada do bloqueio, o documento egípcio permanece vago, contentando-se a dizer que pontos de passagem fechados serão abertos em virtude de acordos entre Israel e a Autoridade Palestina.
Segundo os negociadores palestinos, Israel concordaria em reduzir as restrições em dois postos de passagem da fronteira entre Gaza e o território israelense, um para pessoas, outro para bens. Este último seria colocado sob supervisão internacional.
De acordo com a imprensa israelense, Israel aceitaria também a entrada de dinheiro sob rígidas condições para pagar dezenas de milhares de funcionários públicos que estão com meses de salários atrasados, e estender as zonas de pesca.