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Rússia enviará ajuda humanitária ao leste da Ucrânia

Total estimado de mortos no conflito ucraniano desde abril, entre combatentes de ambos os lados e civis, chega a 1.500


A Rússia anunciou nesta segunda-feira (11/8) o envio de um comboio com ajuda humanitária para o leste da Ucrânia, "em colaboração com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV)", nos termos de um acordo com o governo de Kiev. A decisão, anunciada pelo presidente Vladimir Putin durante uma conversa por telefone com o presidente da Comissão Europeia (CE), José Manuel Durão Barroso, coincide com o avanço das tropas ucranianas contra os redutos de separatistas pró-russos na região. O avanço das forças de Kiev levou milhares de civis a deixar as cidades de Donetsk e Lugansk, muitos deles com destino a cidades russas na região fronteiriça.

Em entrevista à agência de notícias France-Presse (AFP), o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, garantiu que o comboio não terá "escolta militar" e será enviado "como parte de um acordo com a parte ucraniana". Kiev reforçou que qualquer auxílio russo deverá se ater a uma missão humanitária limitada a Lugansk. Na conversa que teve mais cedo com Putin, o presidente da CE, braço executivo da União Europeia, havia reiterado a advertência do comando da Otan (aliança militar ocidental) para que a Rússia não "utilizasse o pretexto" da ajuda humanitária para intervir militarmente no conflito, ao lado dos separatistas.

O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, tem reunião marcada com o colega norte-americano, Barack Obama, para tratar da crise no leste do país. Os dois decidiram manter um encontro bilateral durante a cúpula da Otan, marcada para 4 e 5 de setembro em Newport (Reino Unido). O presidente americano apoiou a participação russa na missão humanitária dirigida pelo CICV. Obama reiterou ainda a intenção de Washington de se envolver "ativamente" na cooperação internacional. Já o primeiro-ministro britânico, David Cameron, quer aproveitar a cúpula para definir uma política mais severa em relação a Moscou.

Na esteira do recrudescimento da "operação "antiterrorista" contra os redutos rebeldes, o Exército ucraniano bloqueou as estradas que ligam Donetsk e Lugansk. A medida foi tomada após a fuga de 106 prisioneiros de uma penitenciária da região. Localizada no subúrbio de Donetsk e Kirovski, a prisão foi alvejada e parcialmente destruída por disparos de artilharia, o que teria propiciado a fuga. Um repórter da AFP relatou que os rebeldes pró-Moscou se deslocaram para o local no intuito de auxiliar na recaptura. Até a noite de ontem, 40 detentos continuavam foragidos.

Recessão
A economia russa cresceu apenas 0,8% no segundo trimestre deste ano, informou ontem o instituto de estatísticas Rosstat. Alvo de sanções do Ocidente, as mais duras desde o fim da Guerra Fria, a Rússia começa a sentir os efeitos das restrições impostas às exportações e à atuação de bancos no mercado internacional. Em meio à pressão externa, que tenta punir Moscou pelo suposto envolvimento na queda do voo MH17 da Malaysia Airlines, com 298 mortos, o Kremlin anunciou que o presidente russo irá à Crimeia para falar a deputados da península ucraniana anexada em março. "Putin pronunciará um discurso intenso", que refletirá "a agenda com a qual todos vivemos", indicou o porta-voz Peskov à agência de notícias estatal Ria-Novosti.