O FBI (polícia federal norte-americana) abriu uma investigação própria sobre a morte de um adolescente negro desarmado vítima de disparos de um policial, na cidade de Ferguson, no Missouri. O crime foi o estopim para violentas manifestações na noite de domingo, e ontem os protestos se repetiram diante da sede da polícia de Ferguson. O promotor-geral, Eric Holder, instruiu funcionários do Departamento de Justiça a monitorar o caso, e congressistas do Missouri reclamaram explicações urgentes.
Michael Brown, 18 anos, havia concluído recentemente o ensino médio e iniciava nesta segunda-feira (11/8) um curso universitário. A morte do jovem, descrito pela família como um "gigante gentil", levou centenas a uma vigília desde a tarde de domingo. À noite, as demonstrações se tornaram violentas e várias lojas foram saqueadas. Vídeos postados na internet mostram estabelecimentos incendiados e saqueados.
A polícia de Ferguson pediu reforços para cidades vizinhas, que enviaram 300 agentes. Ao menos 32 pessoas foram presas e dois policiais ficaram levemente feridos. "Foi a pior noite da minha vida", desabafou o chefe da corporação, Tom Jackson. A polícia do condado de St. Louis, ao qual Ferguson pertence, assumiu as investigações. Em comunicado, a delegacia ressaltou que trabalha de forma "imparcial", por "não estar envolvida" no incidente. O prefeito James Knowles prometeu que o caso pediu confiança à população. "A única coisa que posso dizer à comunidade é que permaneça calma", disse à rede CNN.
A revolta surpreendeu também o chefe de polícia de St. Louis, Jon Belmar. "Estou na força há 28 anos", disse à imprensa. "Não apenas nunca vi nada assim, como nunca sequer ouvi sobre coisa semelhante na história de St. Louis", lamentou.
Indignação
A tensão racial é latente em Ferguson, onde o prefeito é branco, enquanto a maior parte da população é negra. "A morte de outro afro-americano pelas mãos desses que juraram proteger e servir à comunidade é de partir o coração", declarou Cornell Williams Brooks, da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP).
A mãe de Michael, Lesley McSpadden, não conteve a dor e a indignação ao conversar com repórteres. "Você tem ideia de como foi difícil para mim mantê-lo na escola até se graduar?", desabafou. "Você sabe quantos negros se formam?"
A família do jovem contratou Benjamin Crump, o advogado que representou parentes de Trayvon Martin, adolescente negro morto em fevereiro de 2012, na Flórida, pelo vigia George Zimmerman, que alegou legítima defesa e foi absolvido. À época, o presidente Barack Obama se pronunciou sobre a tragédia em tom pessoal. "Quando Trayvon Martin foi baleado, eu disse que poderia ter sido um filho meu. Outra forma de dizer isso é que Trayvon Martin poderia ter sido eu, 35 anos atrás".