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Iraque tenta sair da crise e deputado xiita tem a missão de formar governo

A ONU fez um apelo às forças iraquianas para que não se envolvam na transição política



Até o momento, Al-Maliki, que liderava o governo desde 2006 e que deseja manter-se a todo custo no poder, não reagiu a este anúncio.

A formação de um governo de unidade é reivindicada pela comunidade internacional para enfrentar a ofensiva lançada em 9 de junho por jihadistas sunitas do Estado Islâmico (EI), que continuam a avançar no Iraque e a realizar abusos contra minorias religiosas, provocando a fuga de centenas de milhares de pessoas.

Em uma breve cerimônia transmitida ao vivo pela televisão, o presidente iraquiano Fuad Massum nomeou Abadi, atualmente vice-presidente do Parlamento, para formar o próximo governo que deverá reunir todas as forças políticas.

"O país está agora em suas mãos", disse Massum a Al-Abadi, pouco depois deste ser escolhido pela Aliança Nacional, o bloco parlamentar xiita, como candidato ao posto de primeiro-ministro no lugar de Nuri al-Maliki.

Armas para as forças curdas

Abadi, que nasceu em 1952 e tem doutorado pela Universidade de Manchester, terá 30 dias para formar seu gabinete.

A coalizão de Maliki faz parte da Aliança Nacional iraquiana, mas não é possível saber até o momento se respalda a candidatura de Haidar al-Abadi.

Esta coligação venceu as eleições de abril e Maliki brigava por um terceiro mandato. Contudo, muito criticado por todos os lados por sua política religiosa em detrimento da minoria sunita e seu autoritarismo, foi afastado do cargo, embora contasse com o apoio de muitos oficiais do exército.

No domingo ele acusou Fuad Massum de violar a Constituição, ao atrasar a nomeação de um primeiro-ministro e anunciou sua intenção de levar o caso à Justiça.

"Apoiamos firmemente o presidente Massum, (que) tem a responsabilidade de proteger a Constituição do Iraque", declarou o secretário de Estado americano John Kerry pouco antes da nomeação de Haidar.

"Esperamos que Maliki não cause problemas", acrescentou. Além disso, Washington decidiu na sexta-feira, após muita hesitação, ajudar os iraquianos com ataques aéreos contra posições jihadistas no norte para combater seu avanço em direção à região autônoma do Curdistão e proteger o consulado americano em Erbil, a capital.

Nesta segunda-feira, o Departamento de Estado anunciou que o fornecimento de armas aos peshmergas, as forças curdas, começou na semana passada. "Nós fornecemo armas de nossos arsenais", afirmou uma porta-voz.

Catástrofe humanitária


Uma reunião extraordinária de embaixadores dos países da União Europeia também foi convocada em Bruxelas, para discutir formas de combater o avanço do EI no Iraque.

O exército iraquiano fracassou em deter os jihadistas, que tomaram faixas de território no oeste, leste e norte do país, sem encontrar resistência.

No norte, as forças curdas, sob pressão financeira e pelo peso que é garantir a segurança de muitas regiões, foram obrigadas a recuar. Os jihadistas aproveitarem a oportunidade para se aproximar de Erbil e tomar a Represa de Mossul, a maior do país.

Os ataques americanos, no entanto, ajudaram os peshmerga a retomar no domingo as cidades de Makhmur e Gwer, mas eles perderam Jalawla, 130 km ao nordeste de Bagdá.

A situação humanitária continua à beira da catástrofe, com centenas de milhares de pessoas fugindo do avanço jihadistas, incluindo muitos cristãos expulsos de Mossul, a segunda maior cidade nas mãos dos jihadistas, e da aldeia cristã de Qaraqosh, tomada pelo EI na semana passada.

A minoria de língua curda e não-muçulmana dos yazidis também está ameaçada desde a tomada de Sinjar, um de seus redutos históricos. Refugiados nas montanhas, milhares tentam sobreviver à fome e aos jihadistas.

Estados Unidos e Reino Unido lançaram alimentos para pessoas necessitadas. Paris também enviou ajuda.