Donetsk - O reduto rebelde de Donetsk, no leste da Ucrânia, sofreu nesta quarta-feira (6/8) seu primeiro ataque aéreo, e as forças governamentais, que se preparam para retomar a cidade, disseram que 18 soldados morreram em confrontos com rebeldes. Kiev negou estar por trás do ataque, que não deixou vítimas civis, segundo as autoridades locais. "O distrito de Kakininski sofreu durante a noite um ataque aéreo (...). Não há vítimas civis", declarou a prefeitura em um comunicado, acrescentando que uma bomba havia aberto uma cratera de quatro metros de diâmetro e 1,5 de profundidade em uma estrada.
O conflito no leste da Ucrânia, que a Cruz Vermelha já classificou de guerra civil, deixou 1.300 mortos desde abril, segundo dados das Nações Unidas. Os civis foram muito afetados, e mais de 285 mil precisaram fugir de seus lares nos últimos meses, segundo a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), que alertou sobre o risco de um êxodo maciço se os combates se intensificarem. As autoridades locais de Lugansk disseram nesta quarta-feira que seguiam sem eletricidade, água corrente, conexões telefônicas e combustível, e que o abastecimento de alimentos estava se reduzindo.
A situação dos refugiados foi alvo de discussões na sede da ONU em Nova York na terça-feira, quando o embaixador russo, Vitali Churkin, pediu que o Conselho de Segurança tome medidas de urgência diante da deterioração da situação humanitária no leste da Ucrânia. A representante adjunta americana, Rosemary DiCarlo, respondeu dizendo que Moscou tinha sua parcela de culpa na crise. "A Rússia pode colocar fim a tudo isso", lançou.
Reforço na fronteira
A Rússia, por sua vez, reforçou suas tropas mobilizadas na fronteira com a Ucrânia de 12 mil para 20 mil efetivos em meados de julho, indicou nesta quarta-feira a Otan, na véspera de uma visita do secretário-geral da organização a Kiev. Segundo o ministério das Relações Exteriores ucraniano, Anders Fogh Rasmussen visitará Kiev na quinta-feira a convite do presidente ucraniano, Petro Poroshenko, para discutir uma reunião iminente sobre a parceria Otan-Ucrânia.
Já a porta-voz da Otan, Oana Lengescu, disse que os recentes movimentos russos, após o endurecimento das sanções econômicas dos Estados Unidos e da União Europeia no mês passado, disparam a tensão e minam os esforços para alcançar uma solução diplomática ao conflito na Ucrânia. "A Rússia dispõe de 20 mil efetivos prontos para o combate (na fronteira). Esta situação é perigosa", disse Lungescu.
"Compartilhamos a preocupação de que a Rússia possa recorrer à desculpa de uma missão humanitária ou de manutenção da paz para enviar tropas ao leste da Ucrânia", afirmou, acusando Moscou de seguir apoiando os separatistas pró-russos e de permitir a passagem de armas pela fronteira. "Toda deterioração da situação humanitária nas zonas controladas pelos separatistas deve-se à persistente desestabilização russa da Ucrânia", explicou. Lungescu reiterou que a Rússia deve abandonar este apoio e retirar "todas as suas forças militares da fronteira".