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Localização de neto de ativista histórica da ditadura emociona a Argentina

O país despertou em meio à comoção a notícia que tem como protagonistas a reconhecida 'avó' Carlotto, de 83 anos, mãe de Laura, e Hortensia Ardua, de 91 anos, mãe de Walmis Oscar

Buenos Aires - Após 36 anos de buscas, Estela de Carlotto, presidente da organização humanitária argentina Avós da Praça de Maio, encontrou Guido, um homem com dúvidas sobre sua origem que se submeteu voluntariamente a exames de DNA que provaram que era seu neto. Nesta quarta-feira (6/8) a Argentina despertou em meio à comoção, expressada na primeira página dos jornais, em comentários de rádio e televisão com a notícia que tem como protagonistas a reconhecida ;avó; Carlotto, de 83 anos, mãe de Laura, e Hortensia Ardua, de 91 anos, mãe de Walmis Oscar. Laura e Walmis são os pais de Guido, assassinado quando ele era um recém-nascido em 1978 durante a ditadura argentina (1976-1983).

"É igualzinho ao pai, não pode negar que seja filho do meu filho", disse Ardua na manhã desta quarta-feira, entrevistada pela rádio Red na província patagônica de Santa Cruz. "Vê-lo foi como ver meu filho, porque os dois são uma cópia. Emociona saber que é nosso. Quero vê-lo, abraçá-lo, saber que é meu neto", declarou Ardua sem poder conter as lágrimas ao descrever como soube na terça-feira por seu filho Jorge da localização do neto.

Carlotto comoveu o país na terça-feira ao confirmar a recuperação de seu neto em uma coletiva de imprensa onde se viu uma mulher feliz. "Agradeço a todos, a Deus, à vida, porque eu não queria morrer sem abraçá-lo", declarou Carlotto na sede da organização que preside desde o fim da década de 80 e que já encontrou outros 113 netos desaparecidos durante a ditadura.



Esta mulher jovial de 83 anos, cercada por seus três filhos, 14 netos e dois bisnetos, além de companheiras de luta e vários netos localizados pela entidade humanitária, se comprometeu a seguir buscando as outras quase 400 crianças que ainda não foram encontradas. "Laura sorri do céu", afirmou Estela ao lembrar sua filha, uma militante "montonera" - a guerrilha de esquerda dos anos 70 - que estava grávida de três meses quando foi sequestrada e levada a um centro de tortura da ditadura.

Após dar à luz em condições desumanas a Guido, o neto identificado na terça-feira, no dia 26 de junho de 1978, Laura foi assassinada e seu corpo foi entregue mais tarde a sua mãe, que o exigia. Espera-se que nas próximas horas a avó mais famosa da Argentina se reencontre pessoalmente com o neto, um músico criado sob o nome de Ignacio Hurban, a quem Carlotto sempre buscou como Guido.

"Sou o neto de Estela"

Este músico, que participou de atos da organização humanitária de sua avó, se apresentou há apenas um mês voluntariamente para fazer um teste genético e tirar dúvidas sobre sua identidade. Quando ainda não suspeitava de sua verdadeira identidade, o jazzista que mora em Olavarría, 350 km ao sudoeste de Buenos Aires, escreveu uma canção intitulada "Para la Memoria", dedicada ao tema dos desaparecidos na Argentina.

"Sou o neto de Estela de Carlotto", teria confessado na terça-feira ao pianista de seu grupo, um de seus amigos mais íntimos. "Ele estava calmo. O que preocupava ;Pacho; - com é chamado - é como a notícia afetaria seus pais, os que o criaram, porque saberiam da novidade pela televisão", indicou.

Governo argentino comemora


Integrantes do governo argentino comemoraram a recuperação do jovem. O chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, destacou o trabalho da organização presidida por Estela de Carlotto. "Temos um respeito e consideração especial por sua extensa luta, nos foi gerado um sentimento muito profundo de reconhecimento não apenas a sua luta, mas a esta conquista que é extraordinária para todos os netos recuperados", declarou Capitanich em uma coletiva de imprensa na Casa de Governo.

"Este encontro é muito profundo e tem relação com a reivindicação de uma luta histórica que envolve todos os argentinos em relação à memória, à verdade e à justiça, mas, sobretudo, a um sentimento extraordinário que ficará gravado na memória de todos os argentinos", acrescentou Capitanich. Na terça-feira, a notícia foi comemorada pela presidente argentina, Cristina Kirchner, que telefonou para Carlotto e chorou com ela, contou a líder das Avós. "A Argentina é um país um pouco mais justo que ontem", escreveu no Twitter mais tarde a presidente.