Os uniformes azuis dos socorristas contrastam com o milho amarelo dos campos de Grabove, seus gestos são lentos para colocar suas luvas ou carregar corpos.
Trabalhando durante todo o sábado, na zona de impacato do avião malaio, 50 km a leste de Donetsk, os equipes de socorro economizam suas palavras, enquanto detonações próximas são ouvidas.
A linha de frente entre os separatistas pró-russos e as forças ucranianas fica a poucos quilômetros e apesar, da tragédia aérea, não há sinais de trégua.
[SAIBAMAIS]
Os olhos se concentram em pequenos panos brancos amarrados a varas de madeira, plantadas um dia antes e único indicador da presença de corpos dispersos em meio ao trigo.
Os corpos, alguns já enegrecidos e inchados após mais de 36 horas ao ar livre, são, então, colocados em grandes sacos mortuários pretos e transportados em macas antes de serem reunidos na beira da estrada.
O destino previsto pelos rebeldes: o necrotério de Donetsk. De acordo com os rebeldes pró-russos, 27 corpos encontrados a alguns quilômetros de distância, perto de outra aldeia, já foram transportados para o necrotério da principal cidade da região, nas mãos de rebeldes separatistas.
Dois dias após a queda do voo da Malaysia Airlines, provavelmente causada pelo disparo de um míssil terra-ar, a área é fortemente vigiada e totalmente interditada à imprensa, que só tem acesso aos primeiros metros do local que se estende por quilômetros.
Tensão com a imprensa
Dezenas de rebeldes pró-russos armados bloqueiam a pequena estrada que atravessa a área onde os destroços do avião caíram e a tensão é alta, com dezenas de jornalistas.
"Nós protegemos a zona porque os especialistas estão trabalhando. Isso é normal não ter acesso a esses locais", diz o homem que se apresenta como o comandante rebelde do batalhão responsável pela segurança do local, sem dar o seu sobrenome.
Poucos minutos depois, exasperado com as câmeras que querem filmar as buscas no campo, ele puxa a manga da camisa e dispara para o ar no meio de um grupo de jornalistas.
Por volta das 13h00, quando a coluna de veículos da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) chegou ao local, a tensão aumenta: os rebeldes posicionam um veículo no meio da estrada e trinta homens armados vão para o campo.
Após negociações, os observadores são autorizados a entrar na área. "Vocês têm tendas refrigeradas?" pergunta um observador a uma das equipes de resgate em meio a homens armados, cada vez mais numerosos. O homem balança a cabeça em negação.
A poucos metros de distância, malas espalhadas, livros, jogos para crianças, passaportes e um odor quase insuportável.
Uma hora e meia depois, os observadores retornam sem ter tido acesso a toda a área, e principalmente o local da queda. "Tivemos a oportunidade de conversar com líderes, habitantes da área e pessoas que recuperam os corpos", comenta Alexander Hug, supervisor da missão na Ucrânia.
Leia mais notícias em Mundo
Pouco depois de sua partida, dois ônibus descarregam cinquenta passageiros: enfermeiras do hospital de Chakhtarsk e mineiros, com suas roupas de trabalho, capacete vermelho na cabeça e rosto ainda coberto de carvão.
Genia, de 21 anos, arrasta os pés em meio a seus companheiros: "Esta é a segunda vez que venho aqui, mas eu odeio isso. Ontem vieram nos buscar na mina, mas que horror todas essas partes do corpos em decomposição".