Kirkuk - A perspectiva de se formar um governo iraquiano de unidade ficou ainda mais distante nesta sexta-feira com o controle das forças curdas sobre dois importantes campos de petróleo na região de Kirkuk, no norte do Iraque, onde um duplo atentado deixou 28 mortos.
A principal cidade do norte do Iraque foi sacudida por um atentado com carro-bomba seguido pela explosão de uma bomba artesanal, que deixou 28 mortos, incluindo mulheres e crianças que fugiam da ofensiva dos rebeldes sunitas contra as províncias vizinhas, segundo uma fonte médica.
O atentado com carro-bomba atingiu um posto de controle no sul da cidade e, logo depois, uma outra bomba foi detonada.
Aproveitando-se da retirada do Exército iraquiano diante do avanço dos insurgentes sunitas, as forças curdas tomaram o controle de Kirkuk, em 12 de junho. A cidade é disputada com o governo iraquiano.
Nesta sexta, o Curdistão também se apropriou de dois grandes campos de petróleo perto de Kirkuk. Junto com esses avanços, as autoridades curdas já anunciaram, para os próximos meses, a realização de um referendo pela independência.
Kirkuk é uma cidade multiétnica, situada 240 km ao norte de Bagdá. Antes de ser tomada pelos curdos, sua segurança era garantida por uma força policial formada por árabes, curdos e turcomanos.
Intensos combates foram registrados nesta sexta entre as forças iraquianas e insurgentes islamitas em Ramadi, 100 km de Bagdá, onde ao menos 11 policiais morreram e 24 ficaram feridos.
Os combates a oeste da capital da província de Al-Anbar, onde os rebeldes controlam alguns setores desde janeiro, começaram na quinta-feira à tarde e prosseguiam nesta sexta.
Os insurgentes assumiram o controle de várias áreas a oeste da cidade desde o início dos combates. Também tomaram uma delegacia e provocaram uma explosão em outra.
A queda de Ramadi seria uma vitória importante para os insurgentes, que já controlam amplas áreas de território em cinco províncias afegãs, principalmente Al-Anbar.
A dois dias de uma reunião crucial do Parlamento, o primeiro-ministro Nuri al-Maliki, que aposta em sua vitória nas eleições legislativas de abril para tentar um terceiro mandato, enfrenta a ofensiva insurgente sunita e tensões crescentes com o Curdistão iraquiano.
Tensão com Erbil
Enquanto o Exército combate em Ramadi, o Ministério iraquiano do Petróleo acusou nesta sexta-feira as forças curdas, os Peshmergas, por assumir o controle dos dois campos petrolíferos na região de Kirkuk (norte).
"O Ministério do Petróleo condena firmemente a tomada de poços petrolíferos nos campos de Kirkuk e Bey Hassan nesta manhã por parte de grupos de combatentes curdos", afirmou em um comunicado. Esses campos produzem juntos cerca de 400.000 barris diários, de acordo com um porta-voz do ministério.
Essas acusações marcam uma nova escalada nas tensões entre Erbil e Bagdá, que contribuíram recentemente para o fracasso na formação de um governo de unidade nacional.
Aproveitando a retirada do Exército iraquiano diante da ofensiva lançada em junho pelos insurgentes sunitas, as forças curdas tomaram o controle de territórios disputados com Bagdá.
As autoridades curdas pediram na quinta-feira a renúncia do primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, classificando-o de histérico depois de o líder ter acusado a província autônoma de ser o quartel-general dos insurgentes.
As tensões comprometem as tentativas de formação de um governo de unidade nacional que permitiria à classe política apresentar uma frente unida contra a os insurgentes sunitas que, liderados pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI), iniciaram em 9 de junho uma ofensiva que permitiu controlar Mossul, segunda maior cidade do Iraque, grande parte de sua província, Nínive, e alguns setores das províncias de Diyala, Saladino, Kirkuk e Al-Anbar.
Unidade comprometida
O Parlamento deve se reunir no domingo para tentar iniciar o processo de formação de um governo após as eleições legislativas de 30 de abril. Uma primeira sessão realizada em 1; de julho terminou em confusão e causou o adiamento de uma nova sessão prevista para terça-feira.
O aiatolá Ali al-Sistani, maior autoridade religiosa xiita do país, lançou um novo apelo nesta sexta-feira aos líderes políticos iraquianos para que parem as disputas e escolham um governo.
Apesar das críticas sobre seu autoritarismo e sua escolha de marginalizar a minoria sunita, Maliki rejeita a possibilidade de deixar o poder. E, para alguns, ele pode deliberadamente sabotar a sessão parlamentar de domingo para ganhar tempo.
As críticas a Maliki também são relacionadas à incapacidade das Forças Armadas de impedir o avanço dos jihadistas e recuperar o controle das áreas perdidas.
Apesar da ajuda fornecida pelos Estados Unidos, pela Rússia e pelas milícias xiitas, o Exército iraquiano não consegue se recuperar de uma debandada em massa ocorrida nos primeiros dias da ofensiva jihadista.