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Alemanha reúne chanceleres para tentar novo cessar-fogo na Ucrânia

"Não podemos imaginar a negociação de uma resolução para a crise sem ter como base um cessar-fogo durável", declarou o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier

Berlim - Berlim recebe nesta quarta-feira (2/7) os líderes da diplomacia francesa, russa e ucraniana, dedicando seus esforços para avançar no sentido de um cessar-fogo na Ucrânia, uma condição apresentada como necessária para uma saída da crise.

"Não podemos imaginar a negociação de uma resolução para a crise sem ter como base um cessar-fogo durável", declarou o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, em uma declaração pouco antes do início das discussões na capital alemã.

"Seria bom se pudéssemos chegar a um acordo hoje para avanços sólidos sobre o caminho de um cessar-fogo bilateral e durável. Mas isto não é uma tarefa fácil", reconheceu, enquanto o Exército ucraniano prossegue sua operação militar contra os rebeldes pró-russos no leste do país, após o fracasso de um cessar-fogo unilateral proclamado por Kiev.

Explosão de violência


"Os combates já aumentaram em intensidade", considerou Steinmeier. "Nós podemos, a qualquer momento, ver uma explosão de violência, que escape a qualquer controle político ou militar", acrescentou, vendo na reunião de Berlim uma das "últimas oportunidades para se evitar este cenário".

"Nós não vamos relaxar os esforços para encontrar soluções diplomáticas para o conflito", assegurou por sua vez a chanceler alemã, Angela Merkel, durante uma coletiva de imprensa conjunta com o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen.

"É lamentável que o cessar-fogo unilateral de 10 dias proclamado pelo presidente da Ucrânia (...) não tenha sido aceito pelos separatistas", afirmou, sem comentar sobre o não prolongamento da trégua por Kiev.

"A França está mobilizada, com a Alemanha, em favor de uma solução negociada para a crise. (O chefe da diplomacia francesa, Laurent) Fabius lembrará sobre a necessidade de uma retomada do cessar-fogo", indicou em Paris.

Os europeus, sem expressar explicitamente seu descontentamento em Kiev, observaram um silêncio de desaprovação após a não renovação do cessar-fogo pelo presidente ucraniano Petro Poroshenko, ao contrário dos americanos que adotaram uma posição mais favorável em relação a ele.

"É preciso dois para observar um cessar-fogo", declarou na terça-feira a porta-voz adjunta do Departamento de Estado americano, Marie Harf. "O presidente Poroshenko estabeleceu um cessar-fogo por sete dias, ele o respeitou e o prolongou por três dias. Mas o fato é que muitos separatistas não aderiram à trégua e ele tem o direito de defender o seu país".

A reunião em Berlim com Steinmeier, Fabius e seus colegas russo, Sergei Lavrov, e ucraniano, Pavlo Klimkin, ocorre no dia seguinte a fortes declarações do presidente da Rússia, Vladimir Putin, que acusou o presidente ucraniano de ser o único responsável pela situação atual.

No terreno, as forças do governo reconquistaram o posto fronteiriço de Dovjanski;, ocupado pelos rebeldes pró-russos na região Luhansk (leste).

Em um comunicado, a Presidência anunciou a "primeira vitória" do Exército ucraniano depois da retomada da "operação antiterrorista" contra os rebeldes na madrugada de terça-feira.

"Tudo está caminhando conforme o planejado, temos a vantagem", assegurou o ministro da Defesa ucraniano, Mykhaylo Koval.

Antes de partir para Berlim, Lavrov reiterou o seu apelo em favor de um cessar-fogo. "Pedimos novamente com firmeza às autoridades ucranianas (...) para que não bombardeie as cidades e aldeias pacíficas de seu país", disse ele.

O controle da fronteira é um dos objetivos de Kiev, que quer impedir a entrada de homens e equipamentos vindos da Rússia nas zonas rebeldes.

Corredor humanitário

Os separatistas pró-russos dispararam morteiros contra um posto de fronteira na madrugada desta quarta-feira, matando um guarda e ferindo outros quatro, segundo as tropas de proteção das fronteiras em seu site.

Cerca de vinte morteiros foram disparados a partir do povoado de Markino contra o posto de Novoazovsk, na região de Donetsk, de acordo com a mesma fonte.

Os confrontos entre as forças da operação antiterrorista e os rebeldes fizeram quatro mortos nas últimas 24 horas do lado de Kiev -três soldados e um guarda de fronteira-, anunciou o porta-voz do Conselho de Segurança e Defesa Nacional, Andrii Lysenko.

Além disso, ele afirmou que a operação resultou na libertação de três cidades: Staryi Karavan Zakotne e Druzivka. Kiev também anunciou a prisão de um líder separatistas, Volodymyr Kolosniouk, auto-proclamado prefeito de Gorlovka, um dos redutos dos separatistas na região de Donetsk, enquanto negociava a compra de metralhadoras e outras armas na região de Zaporizhzhya (sudeste).

Por sua vez, os rebeldes afirmaram, sem indicar um balanço preciso, que bombardeios aéreos perto de Lugansk fizeram uma dúzia de mortes entre a população civil, de acordo com o porta-voz da auto-proclamada "República Popular de Lugansk", Volodymyr Inogorodtsev, citado pela agência de notícias russa Ria Novosti.

O ministro do Interior ucraniano, Arsen Avakov, deseja abrir nesta quarta ou quinta-feira um corredor humanitário para permitir a retirada de civis das zonas de combates.