Bagdá - O Parlamento iraquiano teve nesta terça-feira (1;/7) a primeira sessão em meio a uma desordem generalizada depois de não conseguir iniciar o processo de formação de um governo, essencial para acabar com a ofensiva jihadista que ameaça o país. A reunião foi marcada por trocas de acusações de curdos e sunitas contra o governo do primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki, presente na sala. Maliki tem cada vez menos chances de concorrer a um terceiro mandato diante do avanço dos insurgentes liderados pelos jihadistas do Estado Islâmico (EI) e o fracasso de seu Exército.
Caberá a este último escolher o candidato do bloco parlamentar que venceu a votação para formar um governo, no caso o de Maliki. Mas, de acordo com um diplomata ocidental, mesmo dentro de sua coalizão xiita, discute-se a possibilidade de substituí-lo após dois mandatos consecutivos. Enfraquecido pelo fracasso de seu Exército frente a ofensiva dos insurgentes, Maliki, no poder desde 2006, é acusado há meses por seus detratores de concentrar o poder e de conduzir uma política de discriminação contra os sunitas.
Dessa forma, mesmo que as regiões de maioria sunita não tenham recebido de braços abertos os insurgentes, também não têm dado apoio ao Exército, incapaz de conter o avanço dos jihadistas nos primeiros dias da ofensiva lançada em 9 de junho. Nesta terça-feira, depois de o EI proclamar no domingo um "califado" nos territórios conquistados entre a cidade de Aleppo (norte da Síria) e a província de Diyala (leste iraquiano), os jihadistas assumiram o controle de Albu Kamal, importante cidade síria na fronteira com o Iraque, depois de três dias de confrontos contra combatentes rivais.
"O Estado Islâmico tomou o controle de Albu Kamal na (província rica em petróleo de) Deir Ezzor, depois de violentos confrontos contra rebeldes apoiados pela Frente Al-Nusra, filiada à Al-Qaeda", segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. Omar Abu Leyla, porta-voz dos rebeldes da província de Deir Ezzor, declarou à AFP que "a luta foi feroz... mas o EI venceu essa partida", após receber reforços do Iraque.
Meio bilhão de dólares sauditas
Para ajudar o governo iraquiano, Moscou forneceu cinco aviões Sukhoi que sobrevoavam o país nesta terça-feira, enquanto Washington mobilizou quase 800 homens -300 conselheiros militares e 500 soldados para proteger a embaixada e o aeroporto de Bagdá. Os Estados Unidos, que descartaram o envio de tropas terrestres, prometeram 36 caças-bombardeiros F-16, que podem atrasar devido à situação de insegurança.
Já a Arábia Saudita anunciou nesta terça-feira uma ajuda humanitária de 500 milhões de dólares para o povo iraquiano. Esta ajuda, decidida pelo rei Abdullah, será desembolsada por meio de agências da ONU, de acordo com o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores saudita em um comunicado publicado pela agência oficial Spa.
"A ajuda beneficiará o povo iraquiano irmão, afetado pelos recentes acontecimentos dolorosos, incluindo os refugiados, independente de sua confissão religiosa ou étnica", afirmou o porta-voz. A situação humanitária no Iraque é alarmante. Mais de um milhão de pessoas fugiram desde o início do ano e, segundo várias organizações humanitárias, é difícil ter acesso a elas.