Kiev - Os rebeldes pró-russos do leste da Ucrânia libertaram neste sábado (28/6) uma segunda equipe de observadores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), mantida refém desde o fim de maio, em um gesto que pode favorecer a consolidação do frágil cessar-fogo.
A trégua foi estendida por mais três dias pelo presidente Petro Poroshenko, na esperança de abrir caminho para um diálogo de paz. Apoiado pelos ocidentais, Poroshenko assumiu o poder em 7 de junho passado.
Os quatro observadores "da equipe com sede em Lugansk foram libertados depois de um mês em cativeiro", informou em sua página no Facebook a missão da OSCE, que está na Ucrânia.
Os observadores - uma mulher e três homens - foram levados para Donetsk. Eles aparentavam cansaço, mas também alívio, constatou um jornalista da AFP.
"Obrigações cumpridas"
"Nós consideramos que cumprimos nossas obrigações", disse o "primeiro-ministro" da república separatista autoproclamada de Donetsk, Alexandre Borodai.
Outros quatro integrantes da OSCE, sequestrados em 26 de maio por rebeldes pró-russos, já haviam sido libertados na noite de quinta para sexta-feira.
Depois de assinarem, na sexta, um acordo de associação histórico com a Ucrânia, os líderes da União Europeia elevaram o tom com Moscou, dando até segunda-feira para a Rússia adotar medidas para acabar com a insurreição separatista, ameaçando adotar novas sanções.
O ministro russo da Economia, Alexei Uliukaev, advertiu neste sábado que novas sanções podem ter "consequências graves" para o crescimento econômico de seu país.
Apesar de as últimas horas terem sido de "relativa calma" na região industrial de maioria russa do Donbass, o porta-voz para operações militares ucranianas Oleksii Dmitrachkivski anunciou a morte de três soldados neste sábado, em um ataque contra posições ucranianas perto de Slaviansk, reduto dos insurgentes.
"Melhor ter uma paz ruim"
Mesmo sem mencionar as novas perdas, o ministro ucraniano da Defesa, Mikhailo Koval, foi duro em suas declarações: "Todos sabem que é melhor uma paz ruim do que uma boa guerra. (...) Se não houver solução pacífica, destruiremos os militantes" que se recusarem a depor as armas", ameaçou Koval, citado por uma agência de notícias ucraniana.
Já os guardas de fronteira russos da região de Rostov, na divisão com a Ucrânia, afirmaram neste sábado que o posto em que estavam e aldeias em território russo tinham sido atingidos por três morteiros disparados pelo Exército ucraniano.
Na noite de sexta-feira, o presidente Poroshenko anunciou que o cessar-fogo de uma semana ordenado às suas tropas, aceito pelos rebeldes, foi prolongado por mais 72 horas. Ele disse esperar que esse seja o tempo para a Rússia impedir as "infiltrações" de armas e combatentes que saem da Rússia para a ex-república soviética.
Nessa mesma noite, porém, os rebeldes assumiram o controle de uma base ucraniana que abriga uma fábrica de munições na periferia de Donetsk. Neste sábado, os separatistas davam aos soldados duas opções: aliar-se à Rússia, ou voltar para casa, de acordo com um jornalista da AFP.
Já a União Europeia (UE) impôs a Moscou quatro condições a serem cumpridas até segunda-feira à tarde, incluindo "a abertura de negociações sobre a aplicação do plano de paz" de Poroshenko.
Apresentado na semana passada, esse plano estabelece, principalmente, a criação de uma zona-tampão na fronteira entre Ucrânia e Rússia; a criação de um corredor para, de acordo com Kiev, permitir que mercenários e rebeldes vindos da Rússia retornem depois de deporem as armas; além de uma descentralização na Ucrânia.
A UE exige, por sua vez, um acordo sobre "um mecanismo de verificação do cessar-fogo, supervisionado pela OSCE", assim como o "retorno da autoridade ucraniana em três pontos da fronteira" com a Rússia e a libertação de todos os reféns.
A prorrogação do cessar-fogo ocorre em um contexto de novas tensões entre Kiev e Moscou após a assinatura em Bruxelas da última etapa de um acordo de associação com a União Europeia.
O presidente russo, Vladimir Putin, denunciou um "golpe de Estado anticonstitucional em Kiev", que levou ao poder um regime pró-ocidental. O vice-ministro russo das Relações Exteriores, Grigori Karassin, advertiu que a conclusão do acordo com a UE terá "consequências graves" para as relações comerciais com a Ucrânia. Há duas semanas, o país não recebe gás russo, diante da ausência de um acordo sobre o pagamento pelo que é fornecido aos ucranianos.
A assinatura do acordo com a UE estava prevista, inicialmente, para novembro de 2013, antes do recuo do presidente pró-russo na época Viktor Yanukovytch, que preferiu receber ajuda econômica de Moscou.
Essa mudança de última hora provocou a onda de contestação que causou a queda de Yanukovytch, em fevereiro. Logo depois, veio a anexação da Crimeia à Rússia, seguida da rebelião pró-Moscou, que desencadeou uma operação militar ucraniana contra os insurgentes em abril.