A ONU elevou para 80% a probabilidade de que neste ano volte a ocorrer o fenômeno climático El Niño, caracterizado por temperaturas anormalmente quentes no Pacífico e que pode acarretar secas e inundações em todo o mundo.
"Há 60% de probabilidade de que, entre junho e agosto, se instale plenamente um episódio de El Niño, e essa probabilidade será de 75% a 80% para o período de outubro a dezembro", informou a Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma entidade das Nações Unidas, com sede em Genebra.
"Muitos governos já começaram a se preparar para a chegada do El Niño", que será, muito provavelmente, de "intensidade moderada", destacou a OMM.
Em abril passado, a OMM tinha considerado provável o retorno de El Niño por volta de meados do ano, mas se absteve de avaliar o risco com maior precisão.
Em coletiva de imprensa celebrada em Genebra, os especialistas do organismo consideraram nesta quinta-feira que ainda era difícil determinar com precisão as regiões que serão afetadas e o tipo de perturbações às quais seriam mais expostas.
"Saberemos mais em agosto", disse Rupa Kumar Kolli, chefe da divisão de clima mundial da OMM, destacando que ainda há uma margem para que o fenômeno não ocorra, já que ainda falta reunir alguns dados atmosféricos.
A OMM destacou, no entanto, que, "recentemente, as águas do Pacífico tropical registraram um aumento da temperatura, atingindo um início frágil de El Niño" e que a tendência se manterá "durante os próximos meses" para alcançar "sua máxima no último trimestre de 2014".
"As previsões dos modelos e as opiniões dos especialistas convergem para o fato de que o fenômeno atingirá uma intensidade máxima durante o quarto trimestre e persistirá nos primeiros meses de 2015 para em seguida se dissipar", especificou.
O El Niño é um fenômeno natural, que ocorre a cada 2 a 7 anos, e "tem grande influência no clima mundial". Sua última ocorrência data de 2009/2010, destacou o informe.
- Impactos socioeconômicos -
O diretor de previsões climáticas da OMM, Maxx Dilley, destaca que muitas regiões podem ser afetadas "pela seca, as chuvas torrenciais, o aumento ou a queda das temperaturas" e que, em certos casos, estas alterações "podem ser extremas".
As variações ainda têm impactos na agricultura, no abastecimento de água e na irrigação. E as inundações podem gerar destruições de infra-estruturas ou provocar epidemias de cólera.
O secretário-geral da OMM, Michel Jarraud, considerou que "os governos do mundo inteiro tiveram tempo suficiente para elaborar planos de contingência a fim de enfrentar os possíveis efeitos do El Niño (...) na agricultura, na gestão de recursos hídricos, na saúde e em outros setores sensíveis ao clima".
"Continuaremos vulneráveis a esta força da natureza, mas podemos nos proteger com uma preparação melhor", acrescentou.
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) advertiu em maio que um novo episódio de El Niño pode acentuar a tendência de queda da produção de arroz na Ásia e comprometer a pesca na América do Sul, entre outros impactos.