Em meados de junho, o Exército havia impedido um ataque anterior contra a refinaria. O episódio aterrorizou os mercados de petróleo, sendo o Iraque o segundo maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Esse foi um raro sucesso do Exército, depois de sua derrota total nos primeiros dias da ofensiva lançada em 9 de junho pelas forças insurgentes, que tomaram Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, uma grande parte de sua província Nínive (norte), Trikit e outras áreas das províncias de Saladino (norte), Diyala (leste), Kirkuk (norte) e Al-Anbar (oeste).
Nessas regiões, as autoridades afirmaram que suspenderiam o pagamento dos salários dos funcionários públicos até o final das hostilidades. Na província ocidental de Al-Anbar, o Exército apoiado por tribos locais repeliu um ataque à cidade de Haditha, que abriga uma grande usina elétrica. A Força Aérea também atacou duas pontes vitais sobre o rio Eufrates, perto da cidade de Al-Qaim, usadas por insurgentes. Pelo menos 13 pessoas morreram.
Iraque em processo de desintegração
Enquanto os jihadistas se encontram a menos de 100 km de Bagdá, Kerry tenta convencer o presidente da região autônoma do Curdistão, Massud Barzani, a participar de um governo de unidade para evitar que o país mergulhe no caos. A missão parece difícil. Barzani já pediu a saída de Al-Maliki, que parece querer permanecer no poder, apesar das duras críticas à sua política religiosa de marginalização da minoria sunita. "Como todos sabem, esse é um momento muito crítico para o Iraque, e a formação de um governo é o nosso maior desafio", disse Kerry ao seu interlocutor.
As profundas divergências que assolaram o país bem antes da ofensiva jihadista impediram a formação de um novo governo depois das eleições de abril, quando o bloco de Al-Maliki venceu. Com o avanço rebelde, uma nova administração se torna ainda mais urgente para o país. Para aumentar a instabilidade, as forças curdas tomaram diversas áreas depois da retirada do Exército frente ao avanço dos insurgentes. Isso inclui a cidade multiétnica e rica em petróleo de Kirkuk, onde o líder do Câmara Municipal foi morto. "Hoje vivemos em uma era diferente", declarou Barzani em entrevista à rede americana CNN, acusando Al-Maliki de ser o "responsável pelo que aconteceu" no Iraque. Segundo ele, "o Iraque está claramente em processo de desintegração, e é claro que o governo federal ou central perdeu o controle de tudo".
Reunião da Otan
Kerry, para quem a ofensiva jihadista representa uma ameaça à integridade do Iraque, prometeu um apoio eficaz, se as forças políticas trabalharem pela unidade do país. O presidente Barack Obama já anunciou o envio de conselheiros militares para ajudar o Exército, mas excluiu o envio de homens. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, mais de mil pessoas morreram entre 5 e 22 de junho em várias regiões do país.
"Pelo menos 757 civis morreram,, e 599 ficaram feridos nas províncias de Nínive, Diyala e Saladino entre 5 e 22 de junho. Pelo menos 318 pessoas morreram, e 590 ficaram feridas durante o mesmo período em Bagdá e nas regiões do sul", declarou o porta-voz do Alto Comissariado, Rupert Colville. "O EIIL divulgou dezenas de vídeos que mostram um tratamento cruel, decapitações e fuzilamentos fora de combate de soldados, policiais e pessoas atacadas aparentemente por sua religião ou origem étnica, incluindo os xiitas e os grupos minoritários como os turcomanos, os shabak, os cristãos e os Yezidis", denunciou Colville.