Beirute - Com bandeiras pretas e combatentes do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL) em cada esquina, não há dúvidas sobre quem manda em Raqa desde que esta cidade do norte da Síria foi declarada capital do grupo jihadista. A localidade, estrategicamente situada no vale do Eufrates e a menos de 200 km da fronteira iraquiana, é a base do EIIL, o movimento que lidera uma ofensiva no Iraque desde 9 de junho.
O emir do EIIL em Raqa, Abu Luqman, é um sírio impiedoso e muito inteligente, contou um morador. Segundo Hadi Salame, pseudônimo de um ativista que trabalha em Raqa, os combatentes de alto escalão são iraquianos, muitos deles ex-militares de Saddam Hussein, deposto pelos Estados Unidos em 2003. "Escolhem os chefes em função de vários fatores, sobretudo se estivessem na prisão na Síria ou sob outros regimes árabes, nos Estados Unidos, no Iraque ou em Guantánamo", afirma.
Ao que parece, o chefe do EIIL, Abu Bakr al-Baghdadi, passou quatro anos em um campo de detenção americano. Não se sabe muito sobre ele e "o mistério que o cerca contribuiu para o culto a sua personalidade", explica Aymen Jawad al-Tamimi, um professor universitário especialista em movimentos islamitas.
Salários em dólares
No Youtube florescem os cânticos religiosos elogiando as virtudes de Baghdadi e pedindo a potenciais novos recrutas que jurem lealdade a ele. Milhares de jovens sírios já se juntaram ao EIIL como alternativa ao Exército Sírio Livre (ESL), mal organizado e equipado. Outro motivo é que o EIIL, que deseja criar um Estado Islâmico na fronteira entre Iraque e Síria, "paga os salários em dólares", ressalta Hadi Salame.
O grupo é rico: se apoderou de armas no Iraque, controla campos de gás e petróleo na Síria e instaurou um sistema de arrecadação de impostos nas zonas sob seu controle. No entanto, a vida da população é extremamente difícil."Os jihadistas estrangeiros são prioridade no hospital. Os sírios, inclusive as crianças, são (cidadãos) de segunda categoria", conta Salame. As pessoas precisam se curvar às ações do EIIL. "Os integrantes mais importantes de todas as tribos juraram lealdade (ao grupo), mais por medo do que por convicção", afirma Huweidi.