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Polêmica sobre amostras de sangue de índios equatorianos respinga no Brasil

O governo equatoriano anunciou a investigação da denúncia segundo a qual três entidades dos EUA teriam extraído e vendido, sem autorização, pelo menos 3.500 amostras de sangue de indígenas equatorianos

Quito - A polêmica desatada no Equador com a denúncia das retiradas de amostras de sangue de índios amazônicos, feitas ilegalmente por cientistas americanos, respingou no Brasil, depois que o país foi citado pelo Procurador da República, em Quito, por ter investigado uma das instituições envolvidas em um caso similar.

Na segunda-feira, o governo equatoriano anunciou a investigação da denúncia segundo a qual três entidades dos Estados Unidos, entre elas uma petroleira e um instituto médico vinculado à universidade de Harvard, teriam extraído e vendido, sem autorização, pelo menos 3.500 amostras de sangue de 600 indígenas equatorianos, com características genéticas únicas, como a resistência a doenças.

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O presidente equatoriano, Rafael Correa, afirmou que as amostras, coletadas de nativos huaoranis, foram retiradas desde a década de 1970, "em parceria com uma petroleira que operava nestes territórios, a Maxus", num caso em que estariam envolvidos a Escola de Medicina da Universidade de Harvard e o instituto norte-americano Coriell, dedicado à pesquisa médica. Oitenta por cento das retiradas teriam sido feitas sem o consentimento dos indígenas e sem que ninguém soubesse que teria fins de pesquisa.

Na terça-feira, o titular da Defensoria do Povo do Equador (procuradoria da República), Ramiro Rivadeneira, afirmou que estas amostras ilegais provavelmente foram extraídas de índios que vivem em países amazônicos, lembrando que "há muitos anos" o Brasil iniciou um processo contra o Coriell.

Segundo ele, em agosto de 1996, dois cientistas brasileiros denunciaram, pela internet, a venda ilegal por parte do instituto Coriell, de amostras de DNA provenientes das tribus karitania e suruí, que vivem no estado amazônico de Rondônia (norte do Brasil), na fronteira com a Bolívia. "Estamos certos de que, tratando-se de comunidades indígenas, não aconteceu apenas no Equador", declarou Rivadeneira na terça-feira ao canal estatal. "Há comunidades indígenas importantes em outras regiões da Amazônia, no Peru, na Bolívia, por isso acreditamos que possivelmente estas amostras também foram coletadas" fora do país, acrescentou.

O Instituto Coriell admitiu ter tido posse do material genético da tribo huaorani, do Equador, obtido por um cientista da Escola de Medicina de Harvard, bem como de ter distribuído amostras.

Em comunicado, o instituto informou só ter recebido, em 1991 e das mãos de um pesquisador não identificado, "um único tubo", que continha "uma linhagem celular linfoblastoide estabelecida a partir de uma amostra de sangue de um indivíduo huaorani".

O instituto acrescentou que "não teve benefícios com a recepção, o armazenamento ou a distribuição" das amostras e acrescentou que a amostra original foi retirada em 2010 e não está mais disponível para pesquisas.

Testemunhos recebidos pela Defensoria do Povo apontam que os huaorani foram enganados por dois americanos, entre eles um médico da petroleira Maxus, que teria dito que as retiradas seriam usadas para exames, cujos resultados nunca foram entregues.

Embora o presidente Correa admita que "não existe nenhuma lei federal dos Estados Unidos que dê fundamento jurídico à demanda em tribunais contra Coriell, Maxus ou os cientistas" de Harvard, o chefe de Estado prometeu levar o caso adiante. "Começaremos a luta, vai ser difícil", disse na sexta-feira Correa, cujo governo mantêm relações conflituosas com os Estados Unidos.

A Constituição Equatoriana proíbe o uso de material genético e a realização de experiências científicas que atentem contra os direitos humanos.