Jornal Correio Braziliense

Mundo

Jihadistas se aproximam de Bagdá e EUA não descartam ataque aéreo

Os rebeldes se apoderaram da cidade de Dhuluiya, 90 km ao norte da capital

Bagdá - Os jihadistas estão a menos de 100 km de Bagdá, depois de terem tomado nesta semana o controle da segunda cidade mais importante do Iraque e de outras zonas no norte do país, informaram nesta quinta-feira (12/6) várias fontes. Ante a impotência do Exército nacional, os Estados Unidos não descartam dar apoio através de ataques aéreos. Os rebeldes se apoderaram da cidade de Dhuluiya, 90 km ao norte de Bagdá, declarou um coronel da polícia e vários habitantes contactados por telefone pela AFP.



Maliki pediu na quarta-feira a todas as tribos que forneçam apoio militar ao Exército e à polícia e "formem unidades de voluntários para ajudá-los" em sua luta contra os jihadistas. Nesta quinta, as forças curdas iraquianas tomaram o controle da cidade petrolífera de Kirkuk para protegê-la de um possível ataque dos jihadistas. É a primeira vez que as forças curdas controlam totalmente esta cidade multiétnica situada 240 km ao norte de Bagdá, onde uma polícia conjunta com membros árabes, curdos e turcomanos vela geralmente pela segurança.

[SAIBAMAIS]"Mobilizamos nossas forças ao redor da cidade de Kirkuk e agora controlamos toda a cidade", disse à AFP o coronel Fateh Rauf, combatente da primeira brigada dos peshmergas (forças de segurança curdas). Também garantiu que "não permitirão a entrada em Kirkuk de nenhum membro do EIIL". O governador da província de Kirkuk, Najmedin Omar Karim, disse que os "peshmergas haviam preenchido o vazio deixado pela retirada do Exército iraquiano de suas posições", nas fronteiras sul e oeste da cidade, e que está em "contato permanente com Bagdá".

Pouco depois, o ministro encarregado dos peshmergas escapou de um atentado contra sua comitiva na província de Kirkuk. Jaafar Mustafá acabava de inspecionar as unidades curdas a sudoeste de Kirkuk quando uma explosão matou um membro dos peshmergas, informou o general Shirko Rauf.

Fracasso americano

Os Estados Unidos prometeram na quarta-feira ajudar o Iraque, inclusive com força militar, diante de uma ofensiva de radicais islâmicos que pôs em xeque o Exército criado e equipado por Washington, dois anos e meio depois da saída das tropas americanas do país. O porta-voz da Casa Branca Jay Carney informou que "os Estados Unidos apoiarão os líderes iraquianos em todo o espectro político enquanto forjam a unidade nacional necessária para combater" o EIIL.

"Com base no Acordo Estratégico, também seguiremos dando a assistência necessária ao governo do Iraque para fortalecer sua capacidade de deter, de maneira eficaz e duradoura, os esforços do EIIL para fazer estragos no Iraque e na região". A Rússia aproveitou para destacar que o avanço dos rebeldes islamitas no Iraque ameaça o país e ilustra o fracasso total da intervenção militar americana e britânica.

"O que está acontecendo no Iraque ilustra o fracasso total da aventura que empreenderam principalmente os Estados Unidos e o Reino Unido, e na qual perderam o controle definitivamente", declarou o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, citado pela agência Itar-Tass. "Há 11 anos, o presidente dos Estados Unidos anunciou a vitória da democracia no Iraque e, desde então, a situação se deteriorou de forma exponencial. Há tempos que advertimos que a aventura lançada pelos americanos e ingleses acabaria mal. Hoje os prognósticos se cumpriram", acrescentou.

Otan exige libertação de turcos


O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, exigiu nesta quinta-feira a libertação imediata dos cidadãos turcos feitos reféns pelos jihadistas no consulado da cidade iraquiana de Mossul, e condenou energicamente esta ação. "Condeno energicamente a tomada de reféns (...) Nós pedimos aos sequestradores que libertem os reféns imediatamente", declarou durante uma coletiva de imprensa em Madri, acrescentando que não vê um papel da Otan no Iraque.

Na véspera, o ministro turco das Relações Exteriores, Davutoglu Amhet, ameaçou adotar medidas de "retaliação" caso algum dos cerca de 50 cidadãos turcos sequestrados por combatentes jihadistas no consulado da Turquia no Iraque sofra algum dano. "Todas as partes precisam saber que, se o menor dano for causado aos nossos cidadãos, haverá represálias (...)", declarou Davutoglu ao vivo da sede da ONU em Nova York. Combatentes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) invadiram na quarta-feira o consulado turco na cidade iraquiana de Mossul (norte) e fizeram 49 reféns, incluindo o chefe da missão diplomática, segundo um funcionário do governo turco.

Progressão dos jihadistas desde a saída dos EUA do Iraque

- 22 de dezembro de 2011: quatro dias depois da retirada americana, o Estado Islâmico no Iraque (EII ou ISI, em inglês), uma facção da Al-Qaeda, reivindica uma série de atentados em Bagdá (60 mortos). O EII é dirigido por Abu Bakr al Bagdadi e foi formado depois da invasão americana em 2003. O EII, autor de inúmeros atentados que se intensificaram ao longo de 2012, se encontra basicamente nas províncias de Al-Anbar, Nínive e Kirkuk. Nesta zona, uma insurreição jihadista causou inúmeras baixas nas tropas americanas entre 2003 e 2006, principalmente em Fallujah e Ramadi (oeste de Bagdá).

- 21 de dezembro de 2012: a minoria sunita, que se considera marginalizada pelo governo xiita, inicia manifestações em massa, que prosseguem durante todo o ano de 2013, principalmente na província de Al-Anbar. Alimentada pela ira sunita e pelo conflito na Síria, a violência alcança seu nível mais elevado em cinco anos (9.475 civis mortos em 2013, segundo a ONG Iraq Body Count), o que faz temer a volta à sangrenta guerra interreligiosa de 2006-2007. Os jihadistas atacam prisões e quartéis e colocam bombas em mercados, mesquitas e funerais. As forças de segurança tentam reagir com operações antijihadistas. Washington se compromete em acelerar o fornecimento de mísseis Hellfire e de drones de vigilância.

- 2 e 4 de janeiro de 2014: os jihadistas controlam Fallujah e bairros de Ramadi. É a primeira vez que cidades importantes escapam ao controle de Bagdá desde a invasão americana. Quase 500.000 pessoas fogem dos combates, segundo a ONU. Os jihadistas, alguns dos quais dizem pertencer ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL ou ISIS, em inglês), estão aliados a várias tribos sunitas hostis ao governo e aproveitam as zonas desérticas para se esconder. O EIIL é um grupo que surgiu do EII. Pouco antes das legislativas de 30 de abril, apesar do cerco militar a Fallujah, o EIIL consegue travar combates perto de Bagdá.

- 5 de maio: os insurgentes atacam Samarra (110 km ao norte de Bagdá), uma cidade simbólica desde que um atentado contra um mausoléu xiita da região desencadeou uma guerra interreligiosa em 2006-2007. O exército, ajudado por membros de tribos, recupera a cidade após combates sangrentos. Um mês depois, os jihadistas atacam a universidade de Al-Anbar em Ramadi e Mossul, segunda cidade do país, 300 km ao norte de Bagdá.

- 10 de junho: o EIIL e outros jihadistas se apoderam de Mossul e de sua província petrolífera de Nínive, provocando o êxodo de 500.000 pessoas, assim como de setores em duas províncias próximas, Kirkuk e Salahedin. No dia 11 tomam Trikrit, capital da província de Salahedin e ex-reduto de Saddam Hussein. Maliki decide armar os cidadãos para lutar contra os insurgentes. O líder xiita Moqtada Sadr, cujos homens lutaram contra o exército americano, pediu a formação de brigadas de defesa de locais religiosos.

- 12 de junho: os jihadistas estão a menos de 100 km de Bagdá, depois de se apoderarem da cidade de Dhuluiya.