Washington - Os Estados Unidos passaram à ofensiva no combate às mudanças climáticas. O governo americano propôs nesta segunda-feira (2/6) cortes de até 30% nas emissões de carbono das centrais elétricas, na ação mais ambiciosa do presidente Barack Obama na agenda ambiental.
A Agência americana de Proteção Ambiental (EPA) elaborou uma proposta que permitirá aos estados reduzirem antes de 2030 30% as emissões de CO2, em comparação aos níveis de 2005.
As centrais elétricas geram cerca de um terço do total das emissões de gás de efeito estufa nos Estados Unidos.
Enquanto o gás natural ganha terreno há vários anos, o carvão continua sendo o componente central da matriz energética norte-americana.
As centenas de centrais espalhadas pelo território americano fornecem cerca de 37% da eletricidade do país, percentual acima do gás natural (30%) e da energia nuclear (19%).
Promovendo as energias mais limpas e reduzindo o desperdício energético, este plano fará com que o ar que respiramos seja mais saudável e contribuirá para desacelerar as mudanças climáticas", disse a diretora da EPA, Gina McCarthy, que acrescentou que é "uma obrigação moral atuar sobre o clima".
De acordo com a EPA, os cortes de emissão evitariam 6.600 mortes prematuras e até 150 mil ataques de asma em crianças.
Obama afirmou, nesta segunda-feira em uma conferência da Associação Norte-Americana do Pulmão, que as linhas mestras do plano "ajudarão a proteger a saúde dos americanos vulneráveis e das crianças."
O presidente, que fez do combate ao aquecimento global uma das promessas centrais da sua campanha em 2008, decidiu privilegiar um enfoque regulamentar após ter enfrentado um Congresso hostil sobre o assunto durante seu primeiro mandato.
Em 2009, Estados Unidos se comprometeram a reduzir antes de 2020 suas emissões de gás de efeito estufa em 17% em comparação ao nível de 2005.
Republicana
Os estados terão até junho de 2016 (ano eleitoral) para apresentar seus planos de ação, em que precisarão detalhar o objetivo fixado.
O plano, comemorado por ONG ambientalistas, deve resultar no fechamento de muitas usinas de carvão, com uma idade média de pelo menos 40 anos, ou em um sistema de cotas de emissões de CO2 que estimulem os grupos energéticos a investirem em energias alternativas ou tecnologias menos poluentes.
Este tema, contudo, é politicamente sensível no país. Os republicanos, que têm maioria na Câmara de Representantes do Congresso, se opõem à nova lei. Alguns questionam a realidade das mudanças climáticas, enquanto outros negam responsabilidade das atividades humanas.
O líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, disse que o plano equivalia a "um desmantelamento unilateral da nossa própria supremacia econômica e a destruição das principais vantagens competitivas da nossa nação na economia global".
"Não há duvida de que nossos concorrentes mundiais nos substituirão em qualquer indústria que percamos em consequência destas regras", disse.
Seu colega de partido e presidente da Câmara de Representantes, John Boehner, foi no mesmo sentido: "Todas as iniciativas desta administração sobre mudanças climáticas fazem mal à nossa economia e destroem empregos".
Boehner, que chamou o plano de "loucura", pediu ao Partido Democrata de Obama, que tem maioria do Senado, que "escute o povo americano e pare este desastre".
Os governadores republicanos poderiam tentar mudanças legais na norma, ainda que a Corte Suprema tenha afirmado a autoridade da EPA para regular as emissões de CO2.
Estímulo
No último domingo, a secretária-executiva para Mudanças Climáticas na ONU, Christiana Figueres, considerou este projeto um "sinal positivo" para os países do mundo inteiro, já que mostra que "um dos principais países emissores de gases de efeito estufa leva o futuro do planeta e de seus habitantes a sério".
A comissária de Ação pelo Clima da União Europeia, Connie Hedegaard, afirmou que a proposta de Obama "mostra que os Estados Unidos levam as mudanças climáticas a sério".
A proposta de Obama chega no momento em que as Nações Unidas buscam chegar a um novo acordo global em matéria de mudança climática no fim de 2015.
O porta-voz do secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, elogiou o anúncio de Obama como um "passo significativo" e pediu a todos os países que "acelerem seus esforços".
O setor energético é o maior emissor de gases de efeito estufa (35%), seguido pela agricultura, pela silvicultura (24%), pela indústria (21%), pelos transportes (14%) e pela construção (6%).