;Ut unum sint; (Para que sejam um, em latim). Sob esse lema e em meio à preocupação com a segurança, o papa Francisco inicia, hoje, uma peregrinação à Terra Santa, considerada histórica e repleta de simbolismo. Durante três dias, o líder da Igreja Católica visitará os locais mais sagrados do cristianismo e fará sinais de aproximação com duas outras grandes religiões ; entre eles, a oração diante do Muro das Lamentações, a ida à Esplanada das Mesquitas e o encontro com os principais rabinos de Israel. Mas o ponto alto da viagem deve ocorrer amanhã, quando o pontífice ensaiará uma reconciliação com a Igreja Ortodoxa. Francisco repetirá o gesto do papa Paulo VI, que se reuniu com Antenágoras, patriarca de Constantinopla, em 5 de janeiro de 1964. Também em Jerusalém, ele será recebido pelo patriarca Bartolomeu I, chefe dos cristãos ortodoxos. Os religiosos vão assinar uma declaração conjunta, por meio da qual expressam o compromisso com a unidade e o desejo de reparar as relações, conturbadas desde o Grande Cisma do ano 1054, quando as duas igrejas se separaram.
;O encontro ecumênico com o patriarca Bartolomeu, no Santo Sepulcro, será uma peregrinação religiosa, com a intenção de deixar uma mensagem de unidade, diante da tumba vazia de Cristo, e pedir a clemência de Deus pelo escândalo de nossa divisão;, afirmou ao Correio Myriam Ambrosselli, diretora de comunicação do Patriarcado Latino de Jerusalém. A expectativa dela é de que o acordo firmado em Jerusalém estabeleça passos para a reconciliação. ;Esperamos ter um calendário único para celebrarmos, juntos, as mais importantes solenidades;, explica. Francisco convidou o rabino Abraham Skorka e o imã Omar Abboud, amigos de Buenos Aires, para acompanhá-lo à Terra Santa. ;Isso mostra que a visita não terá apenas dimensão ecumênica, mas também inter-religiosa;, diz Myriam.
Vigário do Patriarcado Latino de Jerusalém, David Neuhaus destaca a importância da viagem papal. ;Francisco virá para se encontrar com o irmão separado. Pedro e seu irmão André (patrono da Sé de Constantinopla) vão se reunir, novamente, diante da tumba vazia de Cristo e proclamar a fé na ressurreição;, comemora, por e-mail. ;Todos os nossos diálogos e relacionamentos dependem desse gesto em direção à comunhão.; Neuhaus descarta possíveis polêmicas envolvendo o Cenáculo ; na segunda-feira, o pontífice celebra missa no local onde Cristo partilhou a Santa Ceia com os apóstolos. ;Não existe uma disputa real entre Israel e o Vaticano sobre o Cenáculo. A Igreja pede a regularização do direito a orar neste lugar sagrado para os cristãos. A contenda envolve Israel e nacionalistas judeus extremistas, que não desejam ceder nada para a Igreja. Eles são anticristãos, por razões teológicas e históricas;, comenta. Os israelenses creem que o Cenáculo, do lado de fora das muralhas da Cidade de Jerusalém, abriga a tumba do rei Davi.
Preocupação
De Amã, onde se encontrará hoje com o papa, John Esposito ; professor da Universidade de Georgetown (Washington) e especialista em relações entre cristãos e muçulmanos ; afirmou que Francisco deve produzir cenas memoráveis, talvez desapercebidas pela imprensa mundial. ;Ele vai se reunir com os pobres, os refugiados palestinos, os cristãos e os muçulmanos, além de refugiados sírios e iraquianos, em Amã;, exemplificou. Esposito lembra que a Terra Santa é berço de três grandes religiões monoteístas. ;Francisco sublinhou essa realidade, ao agendar encontros com líderes cristãos, judeus e muçulmanos. O pontífice deve enfatizar a preocupação com sobrevivência dos cristãos na região;, disse.
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