Istambul - As violentas manifestações que sacodem a cidade de Istambul nesta quinta-feira (22/5) deixaram um morto durante o dia, um homem atingido por um tiro na cabeça que faleceu no hospital, e mais cinco feridos, informaram as autoridades.
Os protestos entre manifestantes hostis ao governo e forças policiais continuam nesta madrugada (horário local).
"Não conseguimos salvar Ugur Kurt", declarou o prefeito de Istambul, Huseyin Avni Mutlu, no Twitter.
O vice-primeiro-ministro Bulent Arinc revelou que o homem de 30 anos participava do funeral de um parente, quando foi atingido por um disparo da polícia, que utilizou gás lacrimogêneo, jatos d;água e munição real para dispersar manifestantes.
Arinc garantiu que a bala que atingiu o homem hospitalizado e as armas usadas pela polícia serão examinadas pela perícia.
O homem estava em uma casa de culto dos aletivas (cemevi), no bairro de Okmeydani, quando levou uma bala na cabeça. Transportado para o hospital em estado crítico, onde foi operado, não resistiu ao ferimento e faleceu à noite. Ele era pai de um menino.
No vídeo registrado por uma câmera de segurança localizada na entrada do templo, vê-se a vítima cair de repente. Depois, o homem aparece no chão com a cabeça ensanguentada. As imagens circularam nas redes sociais.
A agência de notícias privada Dogan divulgou, por sua vez, a foto de um homem, estirado no chão, com uma poça de sangue ao redor da cabeça no bairro de Okmeydani.
O anúncio da morte aumentou a violência no bairro, que seguia madrugada adentro, com os manifestantes reagindo violentamente contra forças da ordem. A polícia responde com coquetéis molotov, gás lacrimogêneo, jatos d;água e balas de borracha.
"Armas de fogo foram usadas", admitiu o prefeito de Istambul, sem dar mais informações.
A polícia usou gás lacrimogêneo e um canhão d;água, além de dar tiros para o alto, de acordo com a agência Dogan. Segundo uma testemunha que pediu para não ser identificada, a polícia também teria usado balas de verdade contra a multidão.
A polícia intercedeu duas vezes para impedir os manifestantes de chegarem ao hospital. Na frente do estabelecimento médico, mais de 400 pessoas gritavam que "o Estado assassino levou mais uma vida".
Uma semana após a catástrofe na mina de Soma, no oeste da Turquia, na qual morreram 301 mineiros, várias pessoas tomavam as ruas de Istambul na noite desta quinta contra o governo do AKP, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento, no poder desde 2002. O AKP é acusado de ter negligenciado a segurança dos mineiros e de não ter se solidarizado com as vítimas da tragédia.
Apesar da forte presença policial, os ativistas conseguiram chegar ao bairro de Kadik;y. Os manifestantes pediram "prestação de contas ao AKP" e "renúncia do governo" do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, acusando seus membros de serem "assassinos".
A poucos dias do anúncio da candidatura de Erdogan à presidência, as autoridades tentam reprimir qualquer movimento contestatório, com um forte efetivo policial espalhado pelas ruas de Istambul.