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Atentado na Nigéria deixa pelo menos 118 pessoas mortas nesta terça-feira

Os ataques só fazem aumentar o número de vítimas na região

Pelo menos 118 pessoas morreram em um atentado cometido em Jos, cidade no centro da Nigéria, anunciou a Agência Nacional de Gestão de Crises (Nema) nesta terça-feira (20/5) à noite, atualizando o boletim anterior de 46 vítimas fatais e 45 feridos.

"O número de corpos está, atualmente, em 118", declarou o coordenador da Agência, Mohammed Abdulsalam, ressaltando que "pode haver mais cadáveres sob os escombros".

No boletim anterior divulgado pelo delegado de Polícia do estado de Plateau, Chris Olakpe, o número de vítimas chegava a 46 mortos e 45 pessoas gravemente feridas. De acordo com Pam Ayuba, porta-voz do governo, muitas vítimas são mulheres.

Dois carros-bomba explodiram no mercado Novo Abuja, em Jos, capital do estado de Plateau. A autoria do atentado ainda não foi reivindicada, mas o grupo radical islâmico Boko Haram já cometeu vários ataques em Jos.

O primeiro carro-bomba foi detonado no mercado por volta das 15h00 (11h00 de Brasília). Equipes de socorro chegaram rapidamente ao local. Cerca de 20 minutos depois, um micro-ônibus explodiu, atingindo, segundo testemunhas, as equipes de socorro que tentavam chegar às vítimas do primeiro ataque.

"O que estamos fazendo agora é tentar levar os corpos. (...) Vários deles estão tão carbonizados que não podemos identificar as vítimas", disse Abdulsalam, da Nema, acrescentando que "as chamas continuam fortes", e "várias lojas foram completamente queimadas".



Criticado por sua lentidão e pela falta de iniciativa no conturbado momento atravessado pelo país, o presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, condenou rapidamente esses atentados, que, segundo ele, são "um ataque trágico contra a liberdade humana" cometido por homens "cruéis e diabólicos".

"O governo continua completamente comprometido em ganhar a guerra contra o terrorismo", garantiu a nota divulgada pela Presidência.

O estado de Plateau marca o limite entre o sul cristão e o norte de maioria muçulmana no país mais populoso da África, maior potência econômica do continente. No passado, o estado e a capital Jos foram cenário de episódios de violência intercomunitária, assim como de ataques do Boko Haram.

No domingo passado, 18 de maio, quatro pessoas morreram em um ataque suicida cometido em Kano (norte), em um bairro de maioria cristã, com muitos bares e restaurantes. Nesta terça, a polícia disse ter detido dois suspeitos de envolvimento nesse atentado.

Em um mês, dois atentados com carros-bomba deixaram quase 100 mortos em Abuja, capital federal (300 km ao sudoeste de Jos). O primeiro foi reivindicado pelo Boko Haram, envolvido em ações letais no país desde 2009.

- Governo prolonga estado de urgência -

Diante dos ataques cada vez mais violentos do Boko Haram, o presidente Jonathan pediu a extensão do estado de emergência nos estados de Yobe, Adamawa e Borno (nordeste), redutos do movimento islâmico armado.

Em vigor há um ano, a medida foi votada nesta terça por unanimidade no Senado, repetindo o procedimento já adotado pela Câmara de Deputados na semana passada.

Em um primeiro momento, o estado de emergência, acompanhado por uma vasta ofensiva militar, pareceu dar frutos. Agora, observadores já consideram a medida ineficaz e de caráter simbólico.

Foi no estado de Borno, em Chibok, que o Boko Haram sequestrou quase 300 estudantes adolescentes em meados de abril. O ato provocou forte condenação e ampla mobilização da comunidade internacional, que está colaborando com as autoridades locais para encontrar as reféns. Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Israel enviaram, por exemplo, especialistas em operações táticas e de resgate, além de equipamentos para ajudar nas buscas.

Os ataques do Boko Haram se tornaram quase cotidianos, atingindo cada vez mais a população civil, e se estenderam a Abuja e a Kano nas últimas semanas. Desde o início do ano, já são mais de dois mil mortos - civis em sua maioria.

- Necessidade de um ;Plano Marshall; -

Na segunda-feira, o Pentágono anunciou que os governos de Estados Unidos e Nigéria chegaram a um acordo, no último fim de semana, sobre o compartilhamento de informações coletadas em voos de vigilância de aviões e de aeronaves não tripuladas (os chamados "drones"), no nordeste desse país africano.

Além disso, a polícia nigeriana anunciou uma "auditoria de segurança" em todos os internatos do país para evitar uma nova tragédia.

Na votação pela continuidade do estado de emergência, os senadores também pediram "que uma operação militar total seja realizada de maneira prolongada para desmantelar os insurgentes". Além disso, os congressistas parecem estar conscientes da necessidade de promover o desenvolvimento no nordeste do território para enfrentar a radicalização dos jovens nessas regiões desfavorecidas.

"O governo federal, em conjunto com o governo estadual, deve propor um plano de desenvolvimento econômico, como o ;Plano Marshall; para relançar a economia nos estados afetados", defenderam os parlamentares.

No sábado, em uma cúpula realizada em Paris, por iniciativa do presidente francês, François Hollande, Nigéria e seus vizinhos - Benin, Camarões, Níger e Chade - fizeram promessas mútuas para melhorar a cooperação. A parceria inclui a troca de Inteligência nessa luta contra o grupo islâmico, que ameaça a estabilidade da região.

Abuja também fez um apelo à ONU. A Nigéria pediu oficialmente ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que inclua o Boko Haram em uma lista de organizações consideradas terroristas e sujeitas a sanções por seus laços com a rede Al-Qaeda.