Trípoli - O governo da Líbia propôs nesta segunda-feira um recesso para o Congresso Geral Nacional (CGN) com o objetivo de acalmar a tensão no país, depois de um ataque armado contra a instituição e de uma ofensiva paramilitar no leste.
[SAIBAMAIS]Neste contexto de caos, as Forças Especiais de Benghazi, uma unidade de elite do Exército, anunciaram que se juntarão à ofensiva lançada contra grupos radicais por um general da reserva, que é acusado pelas autoridades de "tentativa de golpe de Estado".
A violência pode mergulhar o país na guerra civil e reavivar as rivalidades entre as dezenas de milícias que seguem seus próprios interesses, de ordem ideológica, regional ou tribal.
Essas milícias, lideradas por islamitas, regem a lei neste país desde a queda do regime de Muammar Kadhafi, em outubro de 2011, e as autoridades de transição não conseguem organizar um Exército e uma polícia disciplinados.
Apesar de terem participado da revolta que derrubou Muammar Kadhafi, alguns comandantes da da época foram marginalizados ou descartados pelas novas autoridades reunidas no Congresso Geral Nacional, a mais alta instância política do país. Isso aumentou a rejeição ao CGN, que vive uma crise devido a uma disputa de influência entre islâmicos e liberais.
Afirmando que atua para impedir que a Líbia mergulhe em uma guerra civil, o governo propôs que "após a aprovação do orçamento de 2014, o CGN entre em recesso parlamentar, até a eleição de um novo Parlamento" em um prazo de três meses.
A iniciativa também propõe um novo voto de confiança no Congresso para o novo primeiro-ministro Ahmed Miitig, depois de uma primeira votação caótica no início de maio que foi contestada por vários deputados e personalidades políticas.
União em Benghazi
O CGN irritou as forças políticas e militares e grande parte da população, ao decidir estender seu mandato que expirava em fevereiro para até dezembro de 2014.
Pressionado por grande parte da população, que o critica por não ter impedido a ilegalidade que reina no país, o CGN decidiu realizar eleições antecipadas, mas não definiu uma data.
Com sede em Trípoli, a sede do Parlamento é com frequência alvo de ataques de grupos armados, o último efetuado no domingo pelas milícias da região de Zintan (oeste), consideradas o braço armado do movimento liberal na Líbia e que exige a dissolução do CGN.
Depois do ataque, os zintanis recuaram para seu reduto no sul da capital, onde foram travados combates contra milícias islâmicas (dois mortos e 55 feridos).
Na capital do leste, Benghazi, Khalifa Haftar, líder da força paramilitar que se auto-proclamou Exército Nacional da Líbia, afirma "reorganizar suas unidades", depois de ter lançado na sexta-feira a operação "Dignidade" contra grupos islâmicos armados. Quase 80 pessoas morreram e cerca de 140 ficaram feridas.
Haftar diz que não quer o poder, mas apenas atender "aos pedidos do povo" para combater o "terrorismo". Além das Forças Especiais, vários oficiais da região oriental, incluindo os da Força Aérea, juntaram-se a Haftar.
Mercados preocupados
"Se no leste eles lançaram a operação ;Dignidade;, estamos lançando a operação ;Liberdade", declarou no domingo Naker Abdallah, um ex-combatente rebelde de Zintan à frente de um partido político.
O governo condenou uma "tentativa de golpe" em Benghazi, e denunciou o uso "de armas para expressar opiniões políticas" pelos zintanis.
Desde o fim da revolta contra Kadhafi, em outubro de 2011, rivalidades opõem os zintanis a Haftar, "mas uma aliança contra os islâmicos é provável", considera um oficial do Exército.
Para os observadores, as operações em Benghazi e Trípoli são um "teste" para avaliar o apoio da comunidade internacional, da população e de outras milícias e militares ao governo nacional.
Diante do caos na segurança, a Arábia Saudita anunciou o fechamento de sua embaixada em Trípoli e a retirada de seus funcionários, enquanto a companhia aérea tunisiana Tunisair anunciou a retomada de seus voos para a Líbia depois de uma breve interrupção.
Enquanto a Líbia vê a sua produção de petróleo cair em razão do bloqueio rebelde aos portos, os preços fecharam em alta em Nova York devido aos temores quanto ao fornecimento em um dos maiores produtores do mundo.