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EUA iniciam processo contra militares chineses por ciberespionagem

O governo dos Estados Unidos acusa a China de realizar uma vasta campanha de ciberespionagem para roubar informações confidenciais de empresas americanas

Washington - Os Estados Unidos iniciaram nesta segunda-feira (19/5) um processo contra cinco oficiais do Exército da China por espionagem industrial e econômica, em uma medida inédita classificada como "absurda" pelas autoridades chinesas.

"É um caso, em que alegamos espionagem econômica por parte de membros das Forças Armadas chinesas, e é a primeira vez que são apresentadas acusações contra agentes de um Estado por esse tipo de pirataria", disse o procurador-geral americano, Eric Holder, ao anunciar o caso diante de um júri na Pensilvânia (leste).

Pouco depois de ter conhecimento dessa iniciativa, o governo chinês classificou as acusações de "absurdas" e baseadas em "fatos fabricados".

As acusações foram apresentadas contra cinco integrantes da Unidade 61398 do Exército Popular de Libertação (nome do Exército chinês), que teriam roubado, entre 2006 e 2014, segredos de empresas americanas do segmento de energia, para beneficiar companhias estatais chinesas.

Os acusados foram identificados como "Wang Dong, Sun Kailiang, Wen Xinyu, Huang Zhenyu e Gu Chunhui, oficiais da Unidade 61398, do Terceiro Departamento do Exército Popular de Libertação", informou o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

O processo alega que os cinco acusados "conspiraram para invadir entidades americanas, manter acesso não autorizado a seus computadores e roubar informações que seriam úteis para concorrentes na China, incluindo empresas estatais", acrescentou o Departamento, na nota divulgada à imprensa.

Entre as empresas mencionadas no processo como vítimas da espionagem econômica chinesa estão Westinghouse, US Steel e Alcoa, além das filiais da SolarWorld.

Nesta segunda, Holder afirmou que o julgamento deve servir como uma "advertência". "Esta Administração não vai tolerar ações por parte de qualquer nação que se proponha a sabotar empresas americanas e a minar a integridade da livre-concorrência no funcionamento do mercado", disse Holder aos jornalistas.

De acordo com o procurador-geral americano, o julgamento "deixa claro que os atores estatais que participarem de espionagem econômica, mesmo que pela Internet dos escritórios de Xangai, serão descobertos."

"Buscaremos sua detenção e acusação em um tribunal americano", acrescentou. O Departamento de Justiça informou que esse julgamento é resultado de vários anos de investigação.

Holder acrescentou que o processo também tem como objetivo "dar nomes e rostos àqueles que estão por trás dos teclados em Xangai".

Já o diretor do FBI (a Polícia Federal americana), James Comey, declarou que "há muito tempo o governo chinês utiliza a ciberespionagem de forma vergonhosa para obter vantagens econômicas para suas empresas estatais".

Posição da China


A China não demorou a reagir e rebateu fortemente as acusações, considerando-as "absurdas" e baseadas em "fatos fabricados". O porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Qin Gang, declarou que esses fatos "comprometem a cooperação e a confiança mútua" entre os dois países.

Pequim pediu a Washington que "corrija imediatamente seu erro e abandone essa ;acusação;", frisou, alegando que "a acusação contra autoridades chinesas é absurda e sem qualquer fundamento".

O governo da China já havia manifestado a Washington sua insatisfação com a espionagem eletrônica feita pelos Estados Unidos, como revelaram os documentos vazados pelo ex-analista de Inteligência Edward Snowden sobre a atuação da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês).

Os documentos revelados por Snowden mostram que o governo americano conseguiu penetrar nos sistemas da gigante chinesa de telecomunicações Huawei. A empresa teve suas tentativas de operar no mercado americano bloqueadas sob alegações de segurança.

Em fevereiro passado, a empresa americana especializada em segurança Mandiant publicou um relatório, no qual aponta que a China está fazendo enormes investimentos em espionagem cibernética. Como parte desse esforço, a China teria montado uma unidade ligada ao setor militar com milhares de funcionários que roubam propriedade intelectual e segredos de governo ao redor do mundo.

Segundo a Mandiant, essa equipe funciona de uma sede na periferia de Xangai e seria conhecida como APT1, do inglês Advanced Persistent Threat, ou Ameaça Avançada Persistente.