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Polícia turca lança gás lacrimogêneo contra 10 mil manifestantes em Soma

Os manifestantes responderam atirando pedras contra a polícia, que também fez uso de canhões de água

Agência France-Presse
postado em 16/05/2014 13:18
Soma - A Polícia turca jogou nesta sexta-feira (16/5) bombas de gás lacrimogêneo contra milhares de manifestantes perto da mina na qual quase 300 trabalhadores morreram, em um clima de protestos contra o governo cada vez mais intensos e a poucos meses da eleição presidencial.

Polícia usa canhões de água contra os manifestantes em protesto por causa do desabamento de uma mina de carvão, em Soma
A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo, canhões de água e balas de borracha para dispersar os manifestantes que entoavam palavras de ordem contra o governo em Soma, a cidade mineradora do oeste do país onde ocorreu nesta semana o drama que deixou 284 mineiros mortos até o momento. Alguns manifestantes jogaram pedras nos policiais, segundo jornalistas da AFP no local. Pelo menos cinco pessoas, incluindo dois policiais, ficaram feridas, e também houve detenções.

A comoção gerada pela tragédia se transformou em protesto contra o primeiro-ministro conservador islâmico, Recep Tayyip Erdogan, que deve anunciar nas próximas semanas a candidatura para a eleição presidencial de 10 de agosto. Desde o acidente de terça-feira na mina de carvão de Soma, milhares de turcos saíram às ruas para manifestar o descontentamento com o governo, acusado de ignorar as condições de trabalho no país.

Para tentar acalmar os ânimos, Erdogan prometeu uma investigação oficial para esclarecer o acidente durante uma visita na quarta-feira à mina de Soma. "Os acidentes são parte da própria natureza das minas", disse Erdogan, em uma declaração que aumentou a revolta popular e os protestos da população turca contra o premiê, apesar do amplo esquema de segurança mobilizado nas principais cidades.

Erdogan acusado de agredir manifestante

As fotografias dos protestos também serviram para acirrar os ânimos. Segundo imagens divulgadas nas redes sociais, o chefe de Governo, famoso por perder a calma, teria dado um tapa em um manifestante, uma informação desmentida nesta sexta pelo porta-voz de seu partido para a Justiça e o Desenvolvimento (AKP), Huseyin Celik.

[SAIBAMAIS]A foto de um dos assessores do primeiro-ministro chutando um manifestante, enquanto dois policiais fortemente armados seguravam a vítima no chão, provocou grande impacto em uma Turquia de luto. Desde o acidente, a polícia turca vem reprimindo com violência várias manifestações - usando gás lacrimogêneo e jatos de água -, incluindo as dos sindicatos em greve. De acordo com a imprensa, dezenas de manifestantes ficaram feridos.



Os críticos de Erdogan, que pedem sua renúncia, insistem na falta de monitoramento oficial nos locais de trabalho, principalmente nas minas. Mas os protestos contra o governo, que aumentaram em dezembro após um escândalo de corrupção que resvalou no Executivo e no próprio primeiro-ministro, não afetaram o governante Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que venceu as eleições municipais de 30 de março.

Após a vitória, ninguém duvida que o homem mais carismático da política turca vai disputar a próxima eleição presidencial. Na cidade de Soma, quase 500 funcionários continuavam trabalhando para retirar os últimos corpos da mina. "No máximo 18 mineiros permanecem presos na mina" de carvão, anunciou nesta sexta-feira o ministro da Energia, Taner Yildiz, que indicou que o registro de mortes na tragédia chegará a pouco mais de 300.

A empresa privada que explora a mina de Soma negou qualquer negligência. O diretor de exploração da Soma Komur Isletmeleri A.S., Akin Celik, declarou que o acidente pode ter acontecido devido a uma explosão causada por pó de carvão, e não por um curto-circuito em um transformador elétrico, apontado desde o início como a origem do acidente.

O diretor-geral da empresa, Alp Gürkan, chamou o acidente de "tragédia inacreditável", mas destacou que a mina respeita as normas de segurança. A imprensa local acusa Gürkan, ligado ao partido governista, de priorizar o lucro em detrimento da segurança de seus trabalhadores. O presidente americano, Barack Obama, telefonou nesta sexta-feira para seu colega turco, Abdullah Gul, para manifestar os pêsames pela catástrofe.

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