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Negociação entre ucranianos desejada pelos ocidentais acaba sem resultado

Debate teve a participação do primeiro-ministro Arseni Yatseniuk, de dois ex-chefes de Estado ucranianos e do diplomata alemão Wolfgang Ischinger

"Aqueles que, com armas nas mãos, travam uma guerra contra o seu próprio país (...), que nos impõem a vontade do país vizinho responderão na justiça. Não vamos ceder à chantagem", prosseguiu.

O representante parlamentar pró-russo Olexander Efremov respondeu que "dezenas de milhares" de habitantes apoiam os insurgentes armados e que a Ucrânia deve acabar com sua operação militar no leste "que causa apenas a morte de civis pacíficos".

[SAIBAMAIS]O debate teve a participação do primeiro-ministro Arseni Yatseniuk, de dois ex-chefes de Estado ucranianos e candidatos na eleição presidencial de 25 de maio, Yulia Timoshenko e o pró-russo Serguei Tiguipko, além do diplomata alemão Wolfgang Ischinger, que defendeu "um processo eleitoral inclusivo, honesto e transparente" na eleição do dia 25.

Os líderes separatistas que proclamaram a "soberania" de duas regiões do leste após o referendo de domingo não foram convidados, apesar dos apelos de Moscou.

Os participantes, principalmente o primeiro presidente ucraniano Leonid Kravtchuk, pediram a organização de uma nova rodada de negociações, desta vez em Donetsk, mas não houve uma decisão.

Diálogo em ponto morto

A chanceler alemã, Angela Merkel, havia considerado na terça que as "mesas redondas" deveriam ser amplas e representativas, e que a violência não teria lugar. Ela enviou seu chefe da diplomacia, Frank-Walter Steinmeier, para Kiev e, depois, a Odessa (sul) para estimular o diálogo.

Em seguida, Steinmeier foi a Paris, onde falou sobre sua visita ao conselho de ministros francês. "Decidimos durante o conselho de ministros francês que a eleição de 25 de maio está em um ponto pelo qual temos que passar de qualquer forma" para permitir uma saída para a crise, declarou o ministro das Relações Exteriores alemão ao lado de seu colega francês, Laurent Fabius.

Os europeus se esforçam há vários dias para retomar o diálogo entre os ucranianos. Mas as iniciativas não surtiram o efeito desejado. A Rússia não muda de postura, por considerar que as condições para o diálogo não estão reunidas.

;Mobilização de toda a UE;

Combates entre rebeldes pró-Rússia e soldados ucranianos são travados quase todas as noites na região de Slaviansk, reduto dos insurgentes. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, pediu na terça a "mobilização de toda a UE e da Otan frente ao risco ou à ameaça de uma queda do Estado ucraniano ou de, pelo menos, de uma divisão muito dolorosa".

A UE deve "se concentrar no tipo de ajuda que permita à Ucrânia organizar uma eleição no dia 25 de maio", disse. O processo eleitoral foi convocado depois da destituição do presidente Viktor Yanukovitch, em fevereiro.

Na Rússia, o presidente da Duma (câmara baixa do Parlamento), Serguei Narychkin, admitiu nesta quarta que organizar esta eleição antecipada é "menos ruim", mesmo que ela não seja "totalmente legítima".

Após a perda da Crimeia, em março, a Ucrânia deu no domingo um novo passo na direção de uma divisão com um referendo duplo de independência em regiões do leste, denunciado por Kiev e pelos ocidentais.

Os separatistas reivindicaram 90% de votos favoráveis à independência e proclamaram, menos de 24 horas depois, a "soberania" das duas regiões, batizadas de repúblicas de Donetsk e de Lugansk. A primeira já pediu a Moscou a anexação à Rússia.

A crise tem um impacto econômico forte sobre Ucrânia e Rússia, anunciou nesta quarta o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento(Berd), estimando que a Ucrânia vai mergulhar na recessão este ano (-7%) e a Rússia, estagnar ou ter o mesmo destino. De acordo com o presidente interino ucraniano, a perda da Crimeia custou 100 bilhões de dólares à Ucrânia.