Moscou - A Rússia acusou nesta terça-feira (29/4) os países ocidentais, que anunciaram novas sanções contra Moscou, de ressuscitar a política da ;Cortina de Ferro; e de levar a Ucrânia, no centro da disputa, a "um beco sem saída". "Rejeitamos as sanções", afirmou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, pouco depois de desembarcar em Cuba.
"Em particular aquelas que foram adotadas pelos Estados Unidos e a União Europeia contra qualquer senso comum a respeito dos acontecimentos na Ucrânia", acrescentou. A Rússia acusou inclusive o governo dos Estados Unidos de colocar em perigo seus astronautas na Estação Espacial Internacional (ISS).
"Se eles querem atingir o setor russo de mísseis, eles vão, automaticamente, expor seus cosmonautas da Estação Espacial Internacional", declarou Dmitri Rogozine, vice-primeiro-ministro russo. As sanções afetam "nossas empresas e nossos setores de alta tecnologia", declarou Serguei Riabkov, vice-ministro russo das Relações Exteriores.
A embaixada dos Estados Unidos em Kiev chamou de "terrorismo" o sequestro dos observadores da OSCE por separatistas ucranianos pró-Moscou. "É terrorismo, pura e simplesmente", afirma um comunicado da embaixada a respeito da situação no leste da Ucrânia, onde hoje três mil manifestantes pró-Rússia ocuparam um prédio da administração regional de Lugansk.
[SAIBAMAIS]As sedes das forças de segurança de Lugansk, cidade de 465 mil habitantes, capital da região de mesmo nome, já estavam ocupados desde o início de abril. Mais cedo, o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, afirmou que os países ocidentais querem retomar a política da ;Cortina de Ferro;. "É a volta do sistema criado em 1949, quando os países ocidentais abaixaram a Cortina de Ferro, cortando o fornecimento de alta tecnologia para a União Soviética e outros países", disse.
"É uma política absolutamente contraproducente, que leva a um beco sem saída a situação na Ucrânia, que já é crítica", disse outro vice-chanceler russo, Grigori Karasin. A expressão Cortina de Ferro foi utilizada pelos ocidentais durante a Guerra Fria para denunciar a separação entre o leste e o oeste da Europa, instaurada pela União Soviética após o fim da Segunda Guerra Mundial. A União Europeia (UE) divulgou nesta terça-feira uma nova lista de personalidades submetidas a sanções, que inclui nove dirigentes políticos e militares russos e seis líderes separatistas da Ucrânia.
A UE acusa os citados de "ações que menosprezam ou ameaçam a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia". O general Valeri Guerasimov, comandante do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia, e o diretor do Departamento Central de Inteligência Militar (GRU), Igor Sergun, estão na lista publicada no Diário Oficial da UE. A nova lista, que inclui os principais dirigentes russos envolvidos na anexação da Crimeia à Rússia, é adicionada a uma relação anterior de 33 nomes. Agora são 48 dirigentes russos ou ucranianos separatistas sancionados..
Segundo fontes diplomáticas, a lista pode ser ampliada no caso de continuidade da crise na Ucrânia. Na segunda-feira, o governo dos Estados Unidos anunciou sanções contra sete autoridades russas e 17 empresas, todos considerados próximos ao presidente russo Vladimir Putin. O Canadá também adotou sanções contra dois bancos e nove dirigentes russos, enquanto o Japão negou vistos a 23 cidadãos russos, o que provocou a irritação de Moscou.
Os ocidentais acusam a Rússia de "jogar lenha na fogueira" na crise da Ucrânia e de realizar manobras militares suspeitas na fronteira. Segundo a Otan, a Rússia concentrou 40 mil militares na fronteira com a Ucrânia.
Mas o ministro russo da Defensa, Serguei Choigu, voltou a afirmar que as forças do país não invadirão a Ucrânia, durante uma conversa telefônica com o secretário de Defesa americano, Chuck Hagel. Choigou também desmentiu as afirmações sobre a presença de grupos de sabotagem russos no sudeste da Ucrânia.
A Otan indicou nesta terça-feira que não dispõe de "informações que indiquem que a Rússia retirou suas tropas da fronteira com a Ucrânia". No leste da Ucrânia a situação permanece tensa. As forças pró-Rússia ocupam edifícios públicos, incluindo prefeituras, delegacias e prédios das forças de segurança, em mais de 10 cidades.