Cenas ;fellinianas;
Como nos filmes de Fellini, grupos de seminaristas correm entoando "Aleluia", outros tocam violão, outros ainda carregam uma enorme cruz entre a multidão: "perdão, perdão, queremos rezar".
Freiras com seus hábitos longos passeiam tomando sorvete e filas de jovens escoteiros com seus uniformes se dirigem às igrejas do centro histórico, abertas para a grande ocasião.
As ruas bloqueadas e os engarrafamentos ao redor do centro obrigaram as autoridades da capital a preparar um dispositivo especial com 5.000 agentes encarregados, entre outras coisas, de organizar o tráfego de pedestres, muitos deles com lenços amarelos e brancos, as cores do Vaticano.
"Vim a Roma para lembrar de um homem que não tinha medo", confessa à AFP o colombiano Octavio ao falar de João Paulo II.
O fluxo de pessoas ao redor da Avenida da Conciliação, que leva à imensa praça de São Pedro, muitas com cobertores e tapetes, é incessante.
"Vou dormir por aqui", contou o italiano Mario, que espera passar a noite ao ar livre para poder se instalar nas primeiras fileiras.
Bandeiras de Polônia, Argentina, Brasil, circulam entre a multidão, enquanto dois cartazes gigantes com as imagens dos futuros santos já foram instalados na fachada da Basílica de São Pedro.
Uma chuva fina pode atrapalhar a "noite branca" de oração organizada em todos os idiomas em quinze igrejas do centro.
Na Basílica de São João de Latrão se reza por João XXIII, o "Papa bom", pai da renovação da Igreja na década de 1960 e que é festejado por centenas de italianos que chegaram de Bergamo, sua região de nascimento.
Na Igreja de Santiago e Monserrat, não muito longe de São Pedro, se reúnem os centro-americanos, muitos deles costarriquenhos que acompanham Floribeth Mora, a mulher do milagre de João Paulo II.
Na véspera, seu porta-voz por mais de 20 anos, o espanhol Joaquín Navarro Valls, reconheceu que o futuro santo polonês não entendeu a magnitude do fenômeno da pedofilia dentro da Igreja, uma mancha em seu longo pontificado (1978-2005).
"Santidade não quer dizer perfeição", advertiu o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, como resposta às críticas e dúvidas geradas pela decisão de canonizar João Paulo II apenas nove anos depois de sua morte, em 2005, convertendo-se na santificação mais rápida da história da Igreja.