Medellín - A cidade de Medellín apresentou um plano para o desenvolvimento sustentável das cidades, que se baseia no crescimento inclusivo e aposta na igualdade, durante o Fórum Urbano da ONU, celebrado esta semana na Colômbia.
"Pensar uma cidade não é mais tarefa exclusiva de especialistas. É indispensável o compromisso social porque, pela primeira vez na história, mais da metade da população do mundo vive nas cidades e espera-se que em 2050 sejam habitadas por 80%", disse nesta quarta-feira (9/4) o prefeito da segunda cidade mais importante da Colômbia, Aníbal Gaviria, na apresentação da Carta Medellín.
O documento, apresentado durante o Sétimo Fórum Urbano Mundial, um espaço de diálogo organizado pelas Nações Unidas para discutir temas do desenvolvimento sustentável, utiliza a segunda cidade da Colômbia como um "laboratório urbano".
O relatório oferece um panorama de exemplos bem sucedidos para combater a pobreza e favorecer a inclusão, com medidas como levar um "Metrocable" (teleférico) aos bairros marginalizados para romper a barreira topográfica imposta pelos morros do vale de Aburrá, e os cercos da violência.
Outras intervenções mencionadas são os projetos que têm como meta reabilitar espaços ambientais, como por exemplo a transformação de um lixão em parque, o que implica em um "urbanismo pedagógico".
A cidade, de 2,5 milhões de habitantes, passou de ser a mais violenta à mais inovadora do mundo, título alcançado em 2013, que a colocou acima de cidades desenvolvidas como Nova York e Tel Aviv, segundo concurso organizado pelo jornal The Wall Street Journal e pelo Citi Group.
O documento, do qual participaram especialistas como o filósofo francês Edgar Morin e o geógrafo e urbanista Jérôme Monnet, também oferece um panorama do mecanismo de financiamento que a cidade de um país em desenvolvimento, como Medellín, pode ter.
Para José Carrera, vice-presidente de Desenvolvimento Social do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) o evento do Fórum Mundial que Medellín organizou destacou a capacidade de organização e a criatividade de uma região da América Latina.
"Há exemplos muito claros do que Medellín está fazendo, por exemplo na gestão da cultura como um mecanismo de inclusão, atrair as pessoas das comunidades e a cidade e vice-versa", destacou.
Segundo Joan Clos, diretor do Programa ONU Habitat, que gerencia o fórum, celebrado a cada dois anos, destacou que não pode haver um desenvolvimento sustentável se a urbanização não for sustentável.
"O desafio é que 3 bilhões de pessoas ainda vão se urbanizar durante o século XXI. Isto exige uma quantidade de recursos e esforços", disse Clos durante o encontro, no qual se reúnem representantes de 130 países, 100 expositores, 50 ministros de Estado, 500 prefeitos.
O ponto forte para que Medellín fosse escolhida como anfitriã do evento foi a importante redução da criminalidade através de soluções, como transporte público limpo e respeitoso com o meio ambiente e a criação de espaços públicos, muito escassos devido ao medo imposto pelo narcotráfico durante as décadas de 1980 e 1990.
"Temos muitas deficiências, muitos fracassos, muitas desigualdades, Medellín não é uma obra acabada. Ainda temos níveis de violência muito dolorosos", disse o prefeito da cidade, que passou de uma taxa de homicídios de 380 para 100.000 habitantes em 1990 a dez vezes menos em 2013.
Com esses níveis, a cidade permanece acima da média da América Latina, de 15,6 homicídios por 100.000 habitantes, mas se destaca como um exemplo de resistência, ou seja, com capacidade de flexibilidade diante de situações limite para superá-las.
"A metamorfose desta cidade, que passou de uma das mais violentas do mundo a um modelo de inovação, resistência e sustentabilidade é um exemplo", disse o prefeito.