Jornal Correio Braziliense

Mundo

Negociação sobre programa nuclear iraniano passa para próxima etapa

O Irã e a delegação do chamado grupo "5%2b1" voltarão a se reunir para "trabalhar nos elementos concretos de um possível acordo global"

Viena - A negociação entre o Irã e as grandes potências sobre o programa nuclear iraniano passará em maio para a próxima etapa, anunciou nesta quarta-feira (9/4) a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, fazendo alusão à redação de um acordo final.

[SAIBAMAIS]O Irã e a delegação do chamado grupo "5%2b1" (China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha) voltarão a se reunir a partir de 13 de maio em Viena para "trabalhar nos elementos concretos de um possível acordo global", explicou a chanceler. Mohamad Javad Zarif, ministro iraniano das Relações Exteriores, e Ashton, à frente da delegação do "5%2b1", participaram nesta quarta-feira das últimas horas de uma segunda rodada de negociações em Viena para acabar com as divergências na busca de um acordo definitivo sobre o polêmico programa nuclear iraniano.



"Em algumas questões, reduzimos as divergências", havia anunciado Abbas Araghshi, vice-ministro das Relações Exteriores e responsável pelas questões técnicas na delegação iraniana. Um funcionário americano de alto escalão já havia classificado como profissional e útil o encontro bilateral entre os Estados Unidos e o Irã que encerrou o dia de discussões de terça-feira.

Já o Guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, expressou nesta quarta-feira seu apoio às negociações nucleares. O Irã aceitou negociar sobre seu programa, suspeito pelo Ocidente e Israel de ocultar objetivos militares, para "quebrar o clima hostil em relação a República Islâmica" e "estas negociações devem continuar", declarou o aiatolá Khamenei.

Mas "apesar da continuação das negociações, as atividades de pesquisa e desenvolvimento nuclear, bem como o sucesso do Irã neste domínio nunca irá parar", assegurou Khamenei em um discurso aos cientistas por ocasião do Dia da Tecnologia Nuclear, publicado em seu site (www.khamenei.ir). Esta foi a terceira rodada de negociações desde que Teerã aceitou, em novembro passado, congelar parte de suas atividades atômicas em troca do levantamento parcial das sanções internacionais, que há anos afogam sua economia.

Número de centrífugas

A delegação iraniana presente nesta semana em Viena foi reforçada com uma equipe de especialistas em questões jurídicas. A data limite inicialmente fixada para chegar a um acordo definitivo é 20 de julho. Um acordo final, impensável há apenas um ano, suprimiria todas as sanções contra o Irã em troca de garantias sólidas do caráter pacífico de seu programa nuclear.

Um dos pontos mais delicados da negociação é o programa iraniano de enriquecimento de urânio. Concretamente, ambas as partes devem entrar em acordo sobre o número e o tipo de centrífugas (aparelhos que servem para enriquecer urânio) que o Irã pode utilizar. As discussões também se concentram no reator de água pesada de Arak. Este reator, ainda em construção, funciona a base de plutônio, um material que pode servir para fabricar uma bomba nuclear.

O Irã insiste que seguirá construindo o reator, mas se mostrou disposto a empregar "novas tecnologias" para acalmar as inquietações do Ocidente sobre seu uso. As equipes em Viena estiveram sob pressão, sobretudo depois que, em Washington, o secretário de Estado John Kerry declarou na terça-feira que, se as negociações fracassassem, o Irã teria em dois meses material suficiente para fabricar armamento nuclear, o que desencadearia uma resposta imediata dos Estados Unidos.

Além disso, embora a Rússia e os países ocidentais parecessem ter decidido que suas divergências sobre a Ucrânia não deveriam colocar em xeque sua cooperação no grupo "5%2b1", a negociação podia ser afetada pela controvérsia levantada após a nomeação do novo embaixador do Irã na ONU. Os Estados Unidos, que a princípio são obrigados a conceder vistos aos diplomatas que trabalham na ONU, cuja sede se localiza em Nova York, comunicaram na terça-feira ao Irã que o embaixador que havia escolhido para representá-lo na ONU "não é viável".

O governo de Barack Obama divulgou sua posição após o Irã confirmar a designação perante as Nações Unidas de Hamid Abutalebi, vetado por Washington por sua suposta participação na tomada de reféns na embaixada americana em Teerã em 1979.