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Irã e grandes potências avançam em negociação sobre programa nuclear

"Em algumas questões, conseguimos reduzir as divergências", anunciou Abbas Araghshi, vice-ministro de Relações Exteriores do Irã



O secretário americano de Estado, John Kerry, advertiu nesta terça-feira que se Teerã retomar seu programa de enriquecimento de urânio, em dois meses o Irã poderá ter material suficiente para fabricar armamento nuclear, o que deflagraria uma "resposta imediata" dos Estados Unidos.

"Acredito que seja de conhecimento público hoje que trabalhamos com um período de cerca de dois meses para que o Irã tenha o material necessário para uma arma", explicou Kerry, em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado americano. Caso os iranianos rompam o acordo, "tomarão uma decisão com consequências enormes, à qual nós responderíamos - muito provavelmente - de maneira imediata".

Aproximar posições

Em Viena, as duas partes parecem ter realizado progressos nas discussões sobre uma possível cooperação nuclear civil. Há várias propostas sobre o tema, principalmente no que diz respeito aos reatores nucleares de água leve, aos novos combustíveis e às aplicações da energia nuclear na indústria agrícola.

Um dos pontos mais delicados é o programa iraniano de enriquecimento de urânio. De concreto, as duas partes devem chegar a um acordo sobre o número e o tipo de centrifugadoras (usada para enriquecer urânio) que o Irã pode utilizar.

As discussões também se centram no reator de água pesada de Arak. Esta instalação, ainda em construção, utiliza a filial de plutônio, que também serve para fabricar uma bomba nuclear. O Irã quer conservar o reator de Arak para a produção de isótopos médicos, mas está disposto a estudar medidas para dissipar preocupações.

A conclusão de um acordo permitiria por fim ao isolamento econômico do Irã. Os dirigentes iranianos admitiram em 20 de março passado, dia do Ano Novo segundo o calendário persa, que melhorar a situação econômica do país é uma prioridade. Um exemplo concreto das mudanças possíveis: os Estados Unidos autorizaram a Boeing a vender ao Irã peças de aviões que Teerã necessita desesperadamente.

O desafio é grande para o presidente americano, Barack Obama, que deve convencer seus aliados israelenses e sauditas, que desconfiam do Irã, do interesse deste acordo com Teerã. Do lado iraniano, a equipe de negociadores está sob a rígida supervisão do Guia Supremo, o conservador aiatolá Ali Khamenei.