O tom subiu nesta terça-feira (8/4) em torno da crise na Ucrânia, que anunciou que tratará como "terroristas e criminosos" os separatistas pró-Moscou que ocupam prédios oficiais no país, enquanto Washington acusou a Rússia, que advertiu para o risco de uma guerra civil no país vizinho.
Mas, apesar da crescente tensão, os Estados Unidos propuseram "discussões" a quatro - Ucrânia/Rússia/União Europeia/EUA - para acabar com a pior crise desde o fim da Guerra Fria. Moscou indicou que analisa a possibilidade de tais negociações, mas quer que os pró-russos sejam representados.
[SAIBAMAIS]À espera de um acordo, o secretário de Estado americano, John Kerry, anunciou que reunirá mais uma vez seu colega russo Serguei Lavrov na próxima semana na Europa.
Na troca de advertências, a Otan alertou a Rússia para as "graves consequências" de uma intervenção na Ucrânia, que seria, segundo a Aliança Atlântica, um grave "erro histórico".
"Os separatistas que pegam em armas, que invadem edifícios, serão tratados como está previsto na Constituição e nas leis, como terroristas e criminosos", declarou o presidente ucraniano interino Olexander Turchynov.
"Mas as forças de segurança nunca usarão armas contra manifestantes pacíficos", disse ele no Parlamento, no que parecia uma resposta às advertências de Moscou sobre o risco de uma guerra civil.
Os pró-russos de Donetsk, que controlam desde domingo a sede da administração regional e que proclamaram uma "república soberana", não parecem intimidados e têm reforçado suas barricadas. "Tememos uma ofensiva das forças de ordem", explicou à AFP Denis, um jovem de 20 anos encapuzado.
Um de seus líderes, Vadim Tcherniakov, reafirmou que eles pretendem organizar antes do dia 11 de maio um referendo sobre uma eventual anexação da região à Rússia e anunciou a formação de "um governo provisório da República de Donbass".
Já em Kharkiv, as forças de segurança e as unidades especiais "Jaguar" do Ministério do Interior ucraniano iniciaram na segunda-feira à noite uma operação "antiterrorista", na qual centenas de manifestantes pró-Moscou tomaram a sede do governo local.
De acordo com a polícia, os manifestantes jogaram coquetéis molotov contra o edifício e usaram "armas e granadas". Três agentes das forças de segurança ficaram feridos, um deles gravemente, e 70 ativistas foram detidos por "separatismo" e "grandes distúrbios", incluindo o líder do movimento.
A sede das forças de segurança de Lugansk, outra cidade do leste da Ucrânia, permanecem sob controle dos separatistas. Cerca de 60 reféns estão no local, segundo os serviços de segurança ucranianos (SUB).
"Os separatistas, com armas e explosivos, impedem cerca de 60 pessoas de sair do local e voltar para as suas casas", indicou o SUB, que denunciou "métodos utilizados por terroristas".
Os manifestantes pró-Moscou exigem a organização de referendos sobre uma "federalização" da Ucrânia ou sobre a anexação das regiões à vizinha Rússia, aumentando os temores de uma nova Crimeia, que foi anexada à Rússia em um rápido processo.
Guerra civil
O presidente russo, Vladimir Putin, que se comprometeu a proteger "a qualquer preço" a população de língua russa da Ucrânia, mobilizou na fronteira quase 40.000 homens, aumentando o temor de invasão.
A Rússia pediu às autoridades de Kiev o fim de qualquer preparativo de intervenção militar nas regiões pró-Moscou do leste da Ucrânia, e advertiu para o risco de uma guerra civil.
O Ministério russo das Relações Exteriores indicou que tem informações sobre a presença de 150 funcionários de uma empresa de segurança privada americana na operação ucraniana, atuando ao lado de nacionalistas ucranianos chamados de "fascista" por Moscou.
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As autoridades ucranianas e acusam a Rússia de querer "desmembrar" o país e boicotar as eleições presidenciais previstas para 25 de maio. Os favoritos são candidatos pró-Ocidente.
Com o repentino aumento da tensão, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, advertiu a Rússia para as "graves consequências" de uma intervenção na Ucrânia, que seria, segundo ele, um grave "erro histórico".
"Peço a Rússia que recue e não agrave a situação no leste da Ucrânia", disse o chefe da Aliança Atlântica. Estados Unidos e Europa mencionaram possíveis novas sanções contra a Rússia no caso de uma intervenção armada na ex-república soviética.
Ajuda econômica urgente
Nesta terça, a Comissão Europeia vai criar um "Grupo de apoio" à Ucrânia para coordenar os esforços financeiros dos Estados membros, dos doadores externos e do FMI.
O grupo, que deve ser criado oficialmente na quarta-feira, vai ser coordenado pelo comissário europeu encarregado da Política de Vizinhança, Stefan Fule.
Ele deve "identificar e coordenar com as autoridades ucranianas a ajuda necessária para estabilizar a economia e a situação política, e ajudar nas reformas", indicou a mesma fonte.
O Fundo Monetário Internacional também alertou nesta terça-feira para os riscos de contágio da crise, que já afeta a Rússia, onde as saídas de capital ultrapassaram US$ 50 bilhões no primeiro trimestre, principalmente em caso de perturbação na produção e no transporte de petróleo e gás.
Justamente para tentar evitar uma "guerra do gás", com consequências potencialmente graves para todo o continente, ucranianos e europeus estão reunidos em Bruxelas.
Moscou acaba de impor um aumento de 80% no preço do gás para a Ucrânia. Isso pode prejudicar toda grande parte da UE, que depende consideravelmente do gás que passa pelo território ucraniano.