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Gazprom anuncia forte aumento do preço do gás para a Ucrânia

A redução de mais de 100 dólares por cada mil metros cúbicos havia sido concedida em dezembro do ano passado

Moscou - A empresa russa Gazprom anulou nesta terça-feira (1;/4) o desconto vital do preço do gás que concedia à Ucrânia, que, ao mesmo tempo, aprovou a realização de manobras militares com a Otan perto da região da Crimeia, anexada por Moscou. A Otan celebra uma reunião ministerial em Bruxelas e um exercício de vigilância aérea dos países bálticos, que assim como a Ucrânia integravam a União Soviética e estão preocupados com o que consideram um novo expansionismo russo.

A Gazprom havia concedido um desconto para o fornecimento de gás em dezembro ao governo do então presidente pró-Moscou Viktor Yanukovytch, que foi destituído em fevereiro pelo Parlamento e substituído por um governo pró-Ocidente. O fim do desconto representa um aumento de mais de um terço do preço do gás, a 385,5 dólares os 1.000 metros cúbicos, anunciou o presidente da Gazprom, Alexei Miller.

O aumento, que já era esperado, agrava as perspectivas econômicas da Ucrânia. O país obteve um apoio de 14 a 18 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI) para evitar um default (interrupção dos pagamentos).

Manobras com a Otan

O Parlamento ucraniano aprovou a realização de manobras militares conjuntas em seu território, entre maio e outubro, com os países da Otan. Os exercícios também acontecerão no Mar Negro, que banha a península da Crimeia, anexada pela Rússia após um referendo (considerado ilegal pela comunidade internacional) organizado pela população local, em sua maioria de origem e língua russa.

"É uma boa oportunidade para desenvolver nossas Forças Armadas", disse o ministro da Defesa ucraniano, Mikhailo Koval. O ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, se disse aberto a uma cooperação estreita entre Ucrânia e Otan, mas não vislumbra "a perspectiva de uma adesão" de Kiev à Aliança Atlântica.

A aprovação das manobras conjuntas coincide com uma reunião dos 28 ministros das Relações Exteriores da Otan em Bruxelas, que deve examinar o reforço da presença da Aliança no leste da Europa e ratificar a suspensão da cooperação com Moscou pela anexação da Crimeia. Como advertência, a Otan organiza nesta terça-feira em Vilnius um exercicio de vigilancia aérea dos países bálticos: Lituânia, Letônia e Estônia.



Mais cedo, o Parlamento aprovou o desarmamento dos grupos paramilitares que participaram nos protestos contra o governo e que ainda controlam o centro de Kiev. A votação aconteceu um dia depois de um tiroteio provocado por um integrante do movimento de ultradireita Pravy Sektor na capital.

Otan não confirma retirada

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, não confirmou nesta terça-feira o início da retirada das tropas russas da fronteira com a Ucrânia, como anunciou na véspera o presidente russo Vladimir Putin. "Não posso confirmar que a Rússia está retirando suas tropas. Não é o que temos visto", disse Rasmussen ao chegar à sede da Otan em Bruxelas para uma reunião de ministros das Relações Exteriores dos membros da Aliança.

[SAIBAMAIS]"Este deslocamento militar em massa não pode de nenhuma maneira representar a ;desescalada; da situação, algo que todos queremos que aconteça, e por isto continuaremos exigindo que a Rússia retire suas tropas e inicie um diálogo construtivo com a Ucrânia", completou Rasmussen. Na segunda-feira, Putin informou a chanceler alemã Angela Merkel que a Rússia estava em um procedimento de retirada parcial das tropas da fronteira com a Ucrânia.

O ministério russo da Defesa anunciou no mesmo dia que o 15; batalhão de infantaria motorizada do distrito militar do centro havia concluído as manobras na região de Kadamovski, perto da fronteira com a Ucrânia, e retornaria para a base em Samara. O governo dos Estados Unidos não confirmou a movimentação, mas considerou que seria "bem-vinda como uma etapa preliminar", segundo o porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki. "Pedimos a Rússia que acelere o processo", completou.

Uma fonte do governo americano disse que a Rússia informou a Washington a decisão de retirar "um batalhão das forças mobilizadas nos arredores da Ucrânia" para enviá-lo a seu quartel. "Recordo que é um batalhão de uma força de mais de sete brigadas", disse. "É um gesto importante no sentido de uma retirada, mas há uma enorme quantidade de forças ao redor da Ucrânia, sem mencionar as que estão na Crimeia", completou a fonte. A presença militar russa na fronteira com a Ucrânia despertou o temor de uma invasão do leste do país, em grande parte de língua russa.