Moscou - O presidente Vladimir Putin anunciou nesta quinta-feira (27/3) que a Rússia criará seu próprio sistema de pagamentos eletrônico, em uma clara tentativa de escapar da pressão financeira ocidental após a anexação da Crimeia.
"Em países como Japão e China esse sistema funciona, e funciona muito bem", declarou Putin citado por agências russas. "Por que não poderíamos fazer? Deveríamos e com certeza vamos fazer", completou.
As multinacionais americanas Visa e Mastercard interromperam na sexta-feira o sistema de pagamentos aos clientes de vários bancos russos, após o anúncio de sanções de Washington contra o banco Rossiya, controlado pelo bilionário Yuri Kovalchuk, e certas personalidades russas.
Leia mais notícias em Mundo
As limitações foram suspensas desde então e afetam apenas o Rossiya.
O comportamento das empresas americanas é lamentável, criticou Putin.
"Penso que isto provocará a perda de certos segmentos do mercado, um mercado muito lucrativo", alfinetou.
Quase 95% dos pagamentos por meio de cartões de crédito na Rússia são feitos com sistemas estrangeiros, informou a presidente do Banco Central, Elvira Nabiulina.
O ministro das Finanças, Anton Siluanov, informou, segundo a agência Interfax, que no momento a Rússia não renunciará aos sistemas Visa e Mastercard, mas "paralelamente" o governo começará a preparar a criação de seu próprio sistema nacional.
Na semana passada, em pleno processo de anexação russa da Crimeia, Estados Unidos e União Europeia anunciaram sanções, entre elas proibições bancárias para 20 funcionários de alto escalão próximos a Putin, assim como contra o Rossiya, que conta com a elite russa entre seus clientes.
Como resultado, muitos clientes de vários bancos russos tiveram seus cartões de crédito bloqueados.
Próprias agências de notação
O presidente americano, Barack Obama, ameaçou ampliar as sanções se Moscou invadir também zonas limítrofes ucranianas.
A Rússia deixou de participar das reuniões do G8 (clube de países mais industrializados) e uma cúpula prevista na cidade de Sochi em junho foi cancelada.
Putin minimizou as sanções e insiste que seu país não se deixará amedrontar.
As agências de notação financeira Stanrd and Poor;s e Fitch revisaram na semana passada a perspectiva da Rússia de estável a negativa, diante do previsível impacto das sanções.
O PIB russo pode se contrair 1,2% neste ano devido à crise, alertou o Banco Mundial em um relatório.
[SAIBAMAIS]Mas os responsáveis pelo regime adotam um tom desafiador.
"Acredito que é necessário pensar em criar nossas próprias agências de notação", afirmou a porta-voz da Câmara Alta do Parlamento russo, Valentina Matviyenko.
O ministro da Economia, Alexei Ulykayev, advertiu nesta quinta-feira que o crescimento de seu país pode se contrair 0,6%, mas denunciou que isso se devia à fuga de capitais, da ordem de 100 bilhões de dólares.
Muitos analistas consideram que Putin está levando seu país a um caminho de isolamento, como já ocorreu em outros períodos históricos, para assegurar seu poder.
A Rússia precisaria de um a dois anos para criar seu próprio sistema pagamentos eletrônico, que teria poucas chances de ser reconhecido fora do país, segundo Igor Nikolayev, diretor do Instituto de Análises Estratégicas.